Portugal

Abusador sexual? “Homens acima de 25 anos e próximos da criança”

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 26-02-2023

O perfil do abusador sexual de crianças em Portugal corresponde a um homem acima dos 25-30 anos e que, normalmente, está próximo da vítima, adianta o coordenador de investigação criminal da Polícia Judiciária (PJ) José Matos.

Em entrevista à Lusa, o responsável da PJ para os crimes sexuais na região de Lisboa e Vale do Tejo alerta para a importância da relação de confiança e ascendência que muitos dos abusadores têm relativamente às crianças, levando a que muitas destas, inicialmente, nem tenham noção de que estão a ser abusadas.

“É um adulto, maioritariamente é homem, tem acima de 25-30 anos e depois pode ir até aos 50-60 e, de facto, está próximo da criança. Nos crimes sexuais contra crianças, estas podem ser alvo de dois tipos de crimes: que ponha em causa a sua liberdade sexual e que ponha em causa a sua autodeterminação sexual”, refere, sem deixar de notar que o crime sexual “não vê estratos sociais ou económicos”.

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Segundo José Matos, um abusador sexual “tem um desvio do comportamento ao nível da sexualidade”, existindo fatores que podem potenciar esse desvio e levar a consumar o crime. Todavia, apesar de notar que ainda persistem “cifras negras” a este nível na sociedade portuguesa, o coordenador de investigação criminal da PJ indica que têm vindo a diminuir, fruto de uma maior sensibilização pública.

Com um percurso de 18 anos como inspetor e cinco como coordenador, dos quais os últimos três à frente da criminalidade sexual em Lisboa e Vale do Tejo, José Matos reconhece que os meios disponíveis para investigar estes crimes permanecem aquém do desejável, embora saliente o esforço da Direção Nacional da PJ para reforçar o combate a esta realidade.

“Nos meios há sempre o ideal, o ótimo, o bom, o suficiente, e nós estamos muito longe do ideal. Na secção que investiga Lisboa e Vale do Tejo, que tem uma área geográfica e uma densidade populacional imensa, temos ativos cerca de 490 inquéritos e tenho 20 pessoas a trabalhar esses 490 inquéritos. Os meios são deficitários, porque todo o crime deve ser investigado o mais rápido possível e com o máximo de ferramentas ao dispor”, admite.

Confessando que nunca quis estar enquanto inspetor nesta área, José Matos esclarece também que para investigar os crimes sexuais – em especial os crimes dirigidos contra crianças – exigem “uma certa sensibilidade”, além de formação e experiência.

“Ouvir um relato de um abuso sexual é completamente diferente. Tem de ser uma escuta ativa, ouvir apenas, e não pode interferir, questionar diretamente, sugestionar, porque, senão, está a contaminar o relato do abuso e é esse saber que nos é transmitido em termos de formação”, destaca, garantindo que há vítimas que “se sentem aliviadas e fazem a catarse” de um evento traumático após relatarem à PJ, enquanto outras continuam a precisar de apoio.

E o impacto traumático das vítimas, sustenta José Matos, pode ter igualmente reflexos entre os inspetores que, diariamente, convivem com esta realidade: “Temos também, em termos de formação, disciplinas para ter a capacidade de arranjar muletas para suportar. Também somos pais, mães, filhos, tios, e vivenciamos nos outros algo que também pode acontecer a nós”.

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