Região

Estádio municipal de Leiria: O abrigo para dezenas de refugiados da Ucrânia

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 20-02-2023

No estádio municipal de Leiria, que durante cerca de 10 meses foi abrigo para dezenas de refugiados da Ucrânia, o único resultado desejado era a paz no país que foram forçados a deixar e que tarda em alcançá-la.

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“No estádio, fiquei descansada, não havia aviões, nem caíam bombas. Estava num local tranquilo, que era o que faltava lá”, afirmou à agência Lusa Natalia Rakhmail, de 41 anos.

O Estádio Dr. Magalhães Pessoa foi, desde 14 de março de 2022 e durante cinco meses e meio, a morada da família de Natalia, na qual se inclui a mãe, de 70 anos, a filha, de 14, e um cão.

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Na entrevista, traduzida por Viktoriya Gavryshkiv, luso-ucraniana de 48 anos a residir em Leiria e que se voluntariou para apoiar os refugiados que chegaram ao estádio, Natalia Rakhmail descreveu, como depois das primeiras bombas caírem em Kiev, capital ucraniana onde a família residia, esta esteve uma semana num abrigo. Foi aí que decidiu que a solução era “fugir rapidamente” e fazer-se ao caminho em direção à paz.

“Fomos de carro até à fronteira da Polónia”, contou, explicando que, pelo caminho, “as pessoas abriram as portas” e não lhes faltou a solidariedade traduzida em dormida e comida.

Na Polónia, deixou o carro e juntas seguiram de autocarro, numa viagem organizada pela Câmara de Leiria, até esta cidade onde mora a madrinha da filha e onde Natalia já tinha estado há quatro anos de férias.

“Quando começou a guerra as pessoas diziam: ‘vem para cá, a gente ajuda-te’”.

Da vida no estádio, “um lugar seguro”, mostrou-se grata pelo apoio “cinco estrelas” que recebeu. Assinalou as cores da roupa de cama, azul e amarelo, da bandeira da Ucrânia, e adorou a comida.

Ali, também ganhou uma família alargada, mas Natalia reconheceu que no início não foi fácil.

“O coração e a cabeça não aguentavam, porque o meu país estava em guerra”, declarou, recordando familiares e amigos que continuam na Ucrânia.

A memória faz-lhe recuar à madrugada de 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia iniciou a ofensiva militar na Ucrânia.

“Toda a gente a dizer ‘começou a guerra’ (…). Parecia um sonho”, disse.

Não era um sonho e “isso é que é o pior”, adiantou, considerando que o único desejo dos ucranianos – “povo forte, corajoso e que nunca desiste” – é que a guerra acabe, mas Natalia Rakhmail teme que o fim ainda possa estar longe.

A família vive agora na sua própria casa, na cidade de Leiria, uma mudança alcançada com a “ajuda bastante” da Câmara Municipal.

E, entretanto, Natalia Rakhmail criou o seu próprio negócio, esteticista, que já fazia em Kiev, mas agora no salão Chamili, na Gândara, União de Freguesias de Marrazes e Barosa.

“Fui substituir uma pessoa grávida e trabalhei numa cabeleireira a fazer unhas durante seis meses. Comecei a falar português, a aprender algumas coisas, a ver como os portugueses trabalham, como falam, o que é que eles gostam”, explicou, admitindo que, depois, abrir o seu próprio negócio “não foi fácil, é um país completamente diferente” e há o problema do idioma, mas hoje a maioria das suas clientes é portuguesa.

A Câmara de Leiria criou um centro de acolhimento temporário para refugiados da Ucrânia no Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa, que começou a funcionar em 07 de março de 2022. Foi encerrado em 30 de dezembro.

No estádio, duas dezenas de camarotes foram transformadas em quartos, com um total de 54 camas. Os camarotes foram adaptados com camas e beliches em função da dimensão das famílias que chegaram ao concelho, de acordo com informação da Câmara de Leiria.

A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados das Nações Unidas (ONU), que classificam esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A ONU apresentou como confirmados, desde o início da guerra, 7.155 civis mortos e 11.662 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

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