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Os caminhos da concertina pelo distrito de Coimbra

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 12-02-2023

A concertina tem vindo a trilhar novos caminhos na cultura portuguesa, com alguns tocadores como Amadeu Magalhães, Dulce Cruz e Arménio Santa a protagonizarem aproximações a diferentes géneros musicais.

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O músico transmontano Amadeu Magalhães, 53 anos, já tocava guitarra clássica e clarinete quando chegou à Universidade de Coimbra, na década de 1980, para estudar engenharia eletrotécnica.

Cedo ingressou no Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), onde logo que disseram que havia falta de alguém que pudesse dar bom uso à concertina deste organismo autónomo da Associação Académica (AAC).

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“Nunca tinha tocado concertina. O GEFAC tinha essa necessidade e eu, como tinha algum jeito, comecei a tocar concertina por necessidade”, recorda à agência Lusa Amadeu Magalhães, que atualmente faz parte da banda do cantor José Cid, na qual é responsável pelo instrumento de palhetas e outros.

Ainda a frequentar a Universidade, há mais de 30 anos, diz ter “começado a perceber que havia outras coisas” na vida, além do curso superior que o levou à cidade do Mondego e que acabou por interromper.

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Passou a dedicar-se exclusivamente à música, após ter travado amizade com Fernando Meireles, construtor de sanfonas e outros cordofones, fundador do grupo Realejo, que os dois dinamizaram com outros membros.

“Muito do que aprendi em concertina foi pela necessidade deste grupo. Éramos exigentes connosco e tive de dar à unha”, explica.

Há algum tempo, Amadeu Magalhães começou a tocar uma concertina digital e nunca mais usou o instrumento na versão acústica.

“Andei muitos anos a acompanhar a Dulce Pontes. Dou agora prioridade ao Zé Cid, com quem tenho mais trabalho”, justifica.

Na banda, responde também pelo cavaquinho, gaita-de-foles, flauta e cordofones, assumindo igualmente “uma componente de ‘rock’ e ‘pop’”.

“Gosto de todos os géneros desde que sejam bem feitos”, afirma, para recomendar que, “nesta democracia musical, há que entender melhor o que se faz lá fora”, designadamente através da internet e da participação em festivais internacionais.

Num passado recente, realça, “muito pouca gente sabia como se tocavam aqueles instrumentos” noutros países.

“A concertina desenvolveu-se muito nos últimos anos. Por mim, deixei de tocar a acústica desde que comprei a digital”, sublinha Amadeu Magalhães.

Numa demonstração coletiva para a Lusa numa sala de ensaios, em Condeixa-a-Nova, o seu amigo Arménio Santa não renega a aprendizagem no Grupo Folclórico Camponeses do Mondego, de Arzila, arredores de Coimbra.

“O folclore foi a escola de muitos de nós”, reconhece o técnico de informática, de 45 anos, que já deu aulas de concertina e que integra o grupo Ginga e a Banda Futrica, de Coimbra.

Define a concertina como “um instrumento muito doce” e, a propósito, evoca o psiquiatra e etnólogo da Manuel Louzã Henriques, da Serra da Lousã, falecido em 2019.

“Ouvi Louzã Henriques a tratar a sua concertina como ‘menina concertina’ e a minha passou a ser também assim”, acentua.

No seu entender, “o músico é que faz o instrumento” e não o contrário: “Cresci a ouvir dizer que a concertina era um instrumento limitado, mas vai muito das nossas influências”.

“Sou também do ‘rock’. Os Ginga são uma banda de ‘rock’ que toca música tradicional portuguesa. Em finais do século XX, estávamos a perder os tocadores de concertina em Portugal, onde temos hoje tanta gente boa a tocar”, lembra Arménio Santa.

“Os gostos não se discutem, mas a verdade é que a continuidade do instrumento está assegurada”, regista, para dizer que quer “tocar concertina como um guitarrista toca guitarra”.

No concelho de Cantanhede, Dulce Cruz tem vindo a promover o ensino da concertina, à qual está ligada desde a juventude, através do folclore, quando ingressou no Grupo Típico de Ançã.

De Cabo Verde, chega o funaná, que a inspira muitas vezes em palco, tal como os temas brasileiros do Rio Grande do Sul e de outras regiões do globo, sem esquecer a música tradicional portuguesa.

“Sempre andei numa busca por algo diferente, nas músicas do mundo”, revela a instrumentista.

 

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