Cidade

Rosa dos Milhões

Notícias de Coimbra | 10 anos atrás em 14-04-2015

A Câmara Municipal de Coimbra aprovou as suas contas do exercício de 2014. Na hora de fazer o balanço, o saldo é mais do que positivo. Parece que estamos no tempo da Roda dos Milhões, ou melhor, da Amiga Olga. Manuel Machado tem mais de 10 milhões no baú, mas procurando melhor conseguimos encontrar 18 milhões.

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Tem a palavra Barbosa de Melo, o senhor que entregou de mão beijada a herança a Manuel Machado. Mas antes vamos desde já sossegar os mais preocupados com os dinheiros municipais. As contas foram aprovadas. Votos? A favor do PS. Contra do CPC. Abstenções da CDU e PSD.

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Vamos então ouvir o sucessor de Carlos Encarnação, que é economista:

A leitura global deste Relatório de Gestão de 2014 mostra bem que, no ano passado, a actividade da Câmara de Coimbra sofreu um grande abrandamento!
Só assim é possível explicar que se tenham acumulado tantos milhões de lucros contabilísticos, que se tenham atingido valores tão altos de “meios libertos” (18 Milhões) e que até haja “fundos disponíveis” bem acima dos 10 Milhões de Euros… Hoje, a Câmara tem cada vez mais dinheiro dos contribuintes de Coimbra nos seus aferrolhados cofres.
Assim, e se quisesse, em 2014 a Câmara podia ter canalizado esta fartura financeira:
– para continuar e alargar o investimento dos anos anteriores na reabilitação do Centro Histórico, na valorização do parque pré-escolar e escolar, em melhores infra-estruturas culturais e desportivas; mas fez muito menos do que podia…
– para oferecer aos nossos concidadãos um espaço público mais cuidado e mais limpo; mas fez muito menos do que podia…
– para investir mais no alargamento das áreas para acolhimento de empresas, sobretudo nas promissoras áreas da saúde e da tecnologia; mas fez muito menos do que podia…
– para melhorar os apoios para os conimbricenses que passam mais dificuldades; mas fez muito menos do que podia…
– para continuar a apoiar com generosidade as pequenas obras das Juntas de Freguesia que melhoram a qualidade de vida de todos, mesmo os que não moram no centro da cidade; mas fez muito menos do que podia…
– para concluir obras estruturantes para o futuro desta região como o Convento de S. Francisco; mas fez muito menos do que podia…
Do lado da receita, a CMC também podia ter aproveitado esta abundância financeira para aliviar a carga tributária sobre os contribuintes de Coimbra, por exemplo devolvendo os 5% do IRS que a lei permite, já que a promessa eleitoral socialista de baixar o IMT era evidentemente ilegal. Mas fez muito menos do que podia…
É verdade que, em 2014, a CMC ainda continuou algumas das obras que vinham de trás, conforme este relatório prova. Esteve sempre, no entanto, mais preocupada em gastar energias a comunicar essas obras como “suas” do que em estimular novas ideias e estratégias para a cidade.
No essencial, a Câmara de Coimbra optou, em 2014, por acumular dinheiro nos seus cofres, fazendo bem menos do que podia ter feito. Porquê? Por dificuldade realizadora num tempo em que todos já devíamos estar preparados para os calvários burocráticos a que a acção municipal está hoje sujeita? Para deixar um pé de meia para gastar no futuro? Por dificuldade de mobilização positiva dos colaboradores da autarquia e das forças vivas da cidade? Porquê?
O discurso de há um ano e meio, de que a Câmara Municipal estava em má situação financeira e sem capacidade de endividamento, já tinha sido categoricamente desmentido pelos números do Relatório de 2013. Como agora se torna claro, esse discurso de dificuldade serviu para encontrar uma justificação para apertar o garrote financeiro a tudo e a todos: aos serviços camarários, às Juntas de Freguesia, bem como a tantas instituições sociais, culturais e desportivas de Coimbra… Depois deste aperto, quando muitas destas estruturas já estavam em dificuldade, parecem ter-se silenciado muitas das vozes discordantes, e deu-se um rude golpe na capacidade reivindicativa das instituições.
Para algumas visões de cidade, este processo pode parecer bom… Mas será um bom resultado para a Coimbra contemporânea e confiante em si mesma, para a Coimbra criativa e estimulante do investimento, para a Coimbra que gera oportunidades para os mais jovens, para a Coimbra que se impõe naturalmente como motor de toda a Região, para a Coimbra que sabe usar o lustre do seu passado para se reconstruir, para a Coimbra que ousa, que reivindica, que sabe gerir as suas contradições e divergências internas? Infelizmente, essa Coimbra ficou um pouco mais longe, em 2014.

 

O e-leitor ainda está aqui? Então vai ficar a saber que esta “conversa”  do anterior líder da autarquia não agradou aos vereadores da situação, mas como não nos forneceram os seus improvisos escritos, vão ter menos tempo de antena do que Barbosa de Melo. Em síntese, Carlos Cidade, Carina Gomes e Jorge Alves disseram que fizerem mais ou o mesmo por menos, o que fica por comprovar até que algum economista independente  esmiuçar os números tão bem como Camilo Lourenço ou José Gomes Ferreira.

Opinião diferente teve a aniversariante a colega Rosa Reis Marques, senhora que tem a chave da cofre.  Diz que  o superavit se deve ao Convento para onde não “entrou” por causa da posse administrativa decidida por Manuel Machado.

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