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Ucrânia: Forças russas em Mariupol destroem edifícios todos os dias desde maio

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 22-12-2022

Na cidade ucraniana de Mariupol, invadida pelas forças de Moscovo, trabalhadores russos estão a demolir os edifícios afetados pelos bombardeamentos, à média de um por dia, arrastando os cadáveres que se encontram nos destroços.

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A investigação da Associated Press (AP) tem como base trinta entrevistas, incluindo contactos com 13 pessoas a viverem sob ocupação russa; imagens de satélite; imagens vídeo recolhidas a partir do interior da cidade, e documentos “de um plano municipal russo”.

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Uma análise da AP das imagens de satélite captadas ao longo dos últimos oito meses de ocupação mostra 8.500 novas sepulturas no cemitério periférico de Staryi Krym, mas “possivelmente estão vários corpos empilhados”.

A agência de notícias refere ainda que há pelo menos três valas comuns nos arredores da cidade, incluindo uma criada por ucranianos no início do cerco.

De acordo com a contagem da AP, apoiada por três patologistas forenses, pode existir um total de, pelo menos, 10.300 novas sepulturas espalhadas por Mariupol.

Em maio, o governo municipal no exílio estimava que 25 mil pessoas, “no mínimo”, tinham morrido.

“Pelo menos três pessoas que se encontram na cidade desde junho dizem que o número de mortos é três vezes superior, com base em conversas com os trabalhadores que recolhem os cadáveres sob as ordens das autoridades de ocupação russas”, escreve a AP.

Segundo informações recolhidas, de forma direta e indireta, a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), refere ainda que veículos militares percorrem as amplas avenidas da cidade e soldados, construtores, funcionários e médicos russos estão a substituir os milhares de ucranianos que morreram ou fugiram.

A AP refere que oito meses após a tomada da cidade, as forças da Rússia estão a descaracterizar a identidade ucraniana assim como “erradicam vestígios de crimes de guerra”, alegadamente cometidos durante as batalhas.

As poucas escolas que se mantêm abertas ensinam em língua russa, assim como os serviços de telecomunicações e estações de televisão a funcionarem na cidade.

A moeda usada é o rublo (divisa russa) e o fuso horário de Mariuopol passou a ser o mesmo de Moscovo.

Nas ruínas da antiga cidade está a ser planificada “uma cidade russa” que usa materiais de “pelo menos uma empresa europeia”, indica a investigação da Associated Press publicada hoje.

A nova cidade está a ser “construída sobre uma cidade de mortos”: há mais de dez mil novas sepulturas em Mariupol, segundo os dados da AP, que acrescenta que o número real pode ser três vezes mais elevado.

A Associated Press calcula que a cidade “perdeu 50 mil residências”.

Os jornalistas da Associated Press foram os últimos repórteres internacionais a saírem de Mariupol, durante os bombardeamentos sendo que o texto publicado hoje pretende relatar o que aconteceu na cidade após a invasão.

Cada pessoa com quem a AP falou conhece “alguém que morreu durante o cerco de Mariupol, que começou com a invasão de 24 de fevereiro”.

“Cerca de 30 pessoas vão todos os dias à morgue na esperança de encontrarem um familiar ou alguém que conhecem”, escreve a AP.

Lydya Erashova viu o filho de 5 anos e a sobrinha de 7 anos morrerem depois de um bombardeamento russo em março.

A família enterrou-os num quintal e fugiu de Mariupol tendo regressado em julho para sepultarem “de forma devida” as crianças mas os corpos tinham sido levados para a morgue.

Atualmente, Erashova encontra-se a residir no Canadá.

Mariupol era um alvo do Kremlin desde o primeiro dia da invasão: situada a apenas 40 quilómetros da fronteira russa, a cidade portuária do Mar de Azov é crucial para as linhas de abastecimento russas.

A cidade foi atingida por ataques aéreos e disparos de artilharia, as comunicações foram cortadas, e o abastecimento de alimentos e água suprimidos.

Os últimos combatentes ucranianos resistiram ao ataque e ao cerco no complexo de siderurgia Azovstal até ao mês de maio.

Em maio, o governo municipal no exílio estimava que 25 mil pessoas, “no mínimo”, tinham morrido.

“Pelo menos três pessoas que se encontram na cidade desde junho dizem que o número de mortos é três vezes superior, com base em conversas com os trabalhadores que recolhem os cadáveres sob as ordens das autoridades de ocupação russas”.

Analisando centenas de fotografias e vídeos, juntamente com documentos das autoridades de ocupação, a AP diz que “descobriu que mais de 300 edifícios em Mariupol foram ou estão prestes a ser demolidos”.

A maioria são blocos de apartamentos de vários andares, com cerca de 180 apartamentos ou mais.

Os cálculos efetuados pela AP indicam que as demolições afetaram 50 mil casas.

“As pessoas ainda vivem nas caves. Não se sabe para onde ir”, disse um ativista em Mariupol, que pediu o anonimato por motivos de segurança.

Os efetivos russos estão agora a mudar-se para o centro histórico da cidade.

As autoridades russas desmantelaram o memorial de Mariupol às vítimas do Holodomor, a fome provocada pelo poder soviético na década de 1930.

Até ao momento, a Rússia construiu pelo menos 14 novos edifícios de apartamentos e está a reconstruir pelo menos dois dos hospitais que foram danificados pelos bombardeamentos.

O vídeo obtido pela AP mostram materiais de construção para isolamento vendo-se a marca da empresa dinamarquesa Rockwool, que mantém uma sucursal na Rússia, apesar das críticas.

O vice-presidente de Comunicações da Rockwool, Michael Zarin, disse que os painéis de isolamento foram distribuídos sem o “conhecimento ou consentimento da empresa”.

​​​​​​​Milhares de antigos residentes de Mariupol foram deportados para a Rússia e milhares fugiram para outras áreas da Ucrânia.

Da antiga população de Mariupol de cerca de 425.000 pessoas, pouco mais de um quarto permanece na cidade, segundo as estimativas de Petro Andryushchenko, um assessor do presidente da câmara de Mariupol refugiado em Dnipro.

​​​​​​​O plano russo para Mariupol prevê que o antigo número de 425 mil habitantes pode ser atingido até 2030.

Neste momento, cerca de 15.000 dos habitantes de Mariupol são tropas russas, disse Andryushchenko, cuja estimativa é formulada com base nas informações sobre os soldados russos que ocuparam as casas e edifícios públicos.

O mesmo responsável disse à AP que a polícia de intervenção russa leva atualmente a cabo missões de patrulhamento para impedir protestos contra a falta de eletricidade e de água.

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