Desporto

Arguidos da divulgação de emails do Benfica optam pelo silêncio no início do julgamento

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 16-09-2022

Os três arguidos do caso da divulgação dos emails do Benfica no Porto Canal remeteram-se hoje ao silêncio no arranque do julgamento, com os advogados do Benfica a apontarem uma “narrativa” e a defesa a invocar o interesse público.

No Juízo Central Criminal de Lisboa, o jornalista e ex-diretor do Porto Canal, Júlio Magalhães, o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, e o diretor de conteúdos do canal dos dragões, Diogo Faria, decidiram não prestar declarações iniciais.

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As intervenções ficaram, assim, a cargo dos advogados, com Rui Patrício – em representação dos assistentes Benfica, Benfica SAD e Benfica Estádio – a referir que “os arguidos sabiam o que faziam, quiseram fazê-lo e montaram, para isso, uma estrutura e organização”.

“Francisco Marques e Diogo Faria violaram emails do domínio do Benfica, porque esses emails estavam relacionados com o Benfica. Acederam ilegitimamente a dados”, disse o advogado, continuando: “Fizeram o que fizeram porque há uma rivalidade desportiva entre FC Porto e Benfica e a sua atuação foi orientada no sentido de servir os propósitos do FC Porto, manchando a reputação do Benfica, perturbando e acedendo a planos, procurando ganhar vantagem desportiva, além da apropriação de segredos de negócio”.

Prosseguindo a sua argumentação, o advogado ligado aos encarnados defendeu que foi construída uma “narrativa” pelos arguidos e refutou a tese de interesse público na divulgação dos emails, ao sublinhar que os dois arguidos não são jornalistas, apesar de Diogo Faria se ter apresentado assim na identificação perante o tribunal.

“Os arguidos selecionaram emails, truncaram o seu conteúdo e manipularam a sua ordem temporal, de forma a construir uma narrativa”, observou. E foi mais longe: “É falsa a alegação de que os arguidos agiram com uma motivação de interesse público. É um interesse clubístico que se inscreve na guerra clubística. Prejudicaram inclusivamente investigações que estavam em curso pelas autoridades”.

Depois de considerar que Júlio Magalhães, enquanto diretor do Porto Canal à altura dos factos, teve conhecimento do conteúdo dos programas Universo Porto – Da Bancada relativamente à divulgação dos emails do Benfica e “nada fez para o evitar”, Rui Patrício rejeitou ainda colocar no centro dos trabalhos a análise dos ditos emails.

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“A adivinhada estratégia dos arguidos de transformar este processo não num julgamento, mas numa análise da narrativa dos seus emails… Não são os emails que estão aqui em apreciação, mas a narrativa que os arguidos construíram a seu bel-prazer. O que está em julgamento é a conduta dos arguidos”, resumiu, sem deixar de notar que a atuação de Francisco J. Marques, Diogo Faria e Júlio Magalhães levou à “ofensa das pessoas coletivas aqui assistentes”.

A resposta não tardou, com o advogado dos três arguidos, Nuno Brandão, a criticar a acusação do Ministério Público, ao alegar que “os factos foram amalgamados na sua qualificação jurídica” e que o “julgamento nem devia ter lugar”, uma vez que, no seu entender, estão em causa “factos que não são crime e assistentes que não são ofendidos”.

Contudo, fez questão de vincar o interesse público dos emails como forma de denúncia de uma “podridão” no sistema desportivo, rebatendo a importância da rivalidade nesse contexto. “O que aqueles emails revelam são influências espúrias da administração do Benfica sobre a arbitragem, delegados da Liga, Conselho de Disciplina… Entendo que não haja interesse dos assistentes, porque há emails indecorosos”, afirmou.

Sem negar uma seleção “ínfima” dos emails “para informar o público de práticas antiéticas”, face aos 20 gigabytes de informação recebidos por Francisco J. Marques, o advogado dos três arguidos denunciou também uma “narrativa da truncagem” desses emails e pediu ao coletivo de juízes presidido por Nuno Costa uma “análise independente” dos factos.

Por último, invocou a liberdade de expressão independentemente da profissão dos arguidos.

“Os divulgadores das mensagens não eram jornalistas, mas não são só jornalistas que têm direito à liberdade de expressão. Não é necessário ser jornalista para se divulgar publicamente factos de interesse público”, concluiu.

A sessão foi dada como encerrada pouco tempo depois, com menos de uma hora de duração. A próxima sessão do julgamento está agendada para 03 de outubro, com a manhã a ser dedicada às intervenções dos assistentes e a tarde a ficar reservada para a audição das primeiras duas testemunhas.

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