Desporto
“Veteranos” são modelos para jovens do futebol
Acácio Martins e Mabília Alves, os mais velhos jogadores de futebol inscritos na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), sentem-se como exemplo para as gerações jovens nas respetivas equipas, movidos por uma “alegria sem limites”.
“Não tenho problema de praticar desporto e ser combativo diante dos mais novos. Eles têm de se superar e dizer que ‘tenho de passar por este homem, que é muito mais velho do que eu!’. Os anos vão pesando e o futebol de veteranos vai estando mais forte, mas sinto-me bem e não é por acaso que vou sendo titular”, partilhou à agência Lusa Acácio Martins, de 65 anos, a competir nos escalões distritais do Porto pelo Baguim do Monte.
Ligado ao desporto-rei desde os 27 anos, este contabilista chegou em 2018 ao emblema gondomarense, no qual assumiu a braçadeira de ‘capitão’, como reflexo de um percurso com “respeito pelos seus companheiros” e “sem inimizades” nos clubes representados.
“Quando vou falar com alguém, dizem-me ‘capitão’ em vez de me chamarem pelo nome. Não sei se é por mérito, simpatia, idade ou conquista, mas acho que foi um pouco disso tudo. Sempre quiseram que abraçasse esse cargo. Em mais de 30 anos de futebol, só vi um ou dois cartões vermelhos. Foi uma disciplina que quis deixar para os outros. Uma equipa tem de ganhar e há que lutar por isso, mas com respeito e sem maldade”, notou.
Acácio Martins assume-se mesmo como extensão do treinador para “colocar um bocado de inteligência no campo e nos colegas”, enquanto vai procurando um “escape do dia-a-dia” através do futebol, que até já precipitou uma rotura dos ligamentos do joelho direito.
“Trabalhei sempre em escritório e tinha uma vida presa, pelo que o desporto funcionava como complemento. Tinha de fazer qualquer coisa para que não estivesse parado. As amizades, o bem-estar e o sacrifício faziam-me bem. Era uma questão de continuar e dizer que precisava daquilo. A dedicação, o respeito pela modalidade e o esforço foram sempre as minhas características, mas foram os amigos que me prenderam”, explicou.
Natural de Espinho, mudou-se para Rio Tinto aos quatro anos e começou por ser guarda-redes de hóquei em patins, já que “sabia patinar pouco e a baliza era o único lugar que podia ocupar”, antes de ampliar o raio de ação nos relvados, com três dos cinco irmãos.
“Comecei como médio ofensivo, mas depois passei a ‘trinco’. Estive no meio-campo, já que tinha boa impulsão nos lances de cabeça, era combativo e não tinha problema de ir ao choque. Nunca fui muito achacado com as lesões. Agora, jogo a defesa central e sou uma espécie de Pepe [internacional português do FC Porto], mas com mais idade. Tento deixar tudo em campo e nunca dar uma bola por perdida, sempre com muita cautela para não magoar os outros”, reiterou.
Sugerindo essa “integridade e honestidade” às novas gerações, Acácio Martins associa a sua longevidade no desporto a uma “alimentação regrada e desprovida de excessos”, admitindo que “há que ter sorte com a saúde, mas também fazer alguma coisa por ela”.
“Os anos passam e vamos dizendo que um dia tenho de acabar. Até penso que esse dia já começou há uns cinco anos, mas, de cada vez que se vai iniciar uma nova época, não consigo entregar os equipamentos e lá tenho de me inscrever. Digo que, se calhar, é este ano que acabou, porque acho que está na idade e quando fizer 66 anos já estaremos na próxima época. Não me sinto velho, mas um pouco mais usado que os outros”, assumiu.
No mesmo tom fala Mabília Alves, de 54 anos, ao revelar que se sente “bem mais feliz, alegre e dinâmica” quando exposta ao exercício físico, que foi diversificando por “mera necessidade” em ginásios tradicionais, no remo e no kickboxing, até chegar ao futebol.
“É giro jogar com elas. Ao lidar com pessoas mais novas, até nos esquecemos da idade que temos. Não me sinto com 54 anos, mas com uns 35. A minha idade nada tem a ver com o meu espírito. Consigo acompanhar as miúdas e tenho sido um pouco dinâmica e competitiva”, confidenciou à agência Lusa a avançada dos açorianos do Vitória do Pico.
Esta farmacêutica oriunda do Porto foi trabalhar para São Roque do Pico há cinco anos, apenas com a perspetiva de “substituir por seis meses uma colega em licença de parto”, embora fosse renovando o seu vínculo, ao ponto de se fixar a tempo inteiro nos Açores.
“Eu sou de farmácia, mas a minha área era desporto e joguei futebol com os rapazes na escola. Uma vez cheguei a ir treinar ao Boavista, mas era muito puxado e achei que não era para mim. Depois, surgiu esta oportunidade. Soube que havia aqui uma equipa para seniores, inscrevi-me e fui jogar. Algumas delas têm perto de 40 anos, outras 30 e tal e, por vezes, jogam miúdas com 19. Há diferença etária, mas dão-se todas bem”, referiu.
Adepta de “ocupar o tempo com desporto sempre que há oportunidade”, Mabília Alves esteve ausente de vários treinos e jogos esta época, na sequência de uma deslocação temporária à cidade Invicta por motivos pessoais, sem ter atenuado o seu entusiasmo.
“Vou jogar até quando elas jogarem. Quando acabar, acabou. Agora, quando há algo, eu vou, porque gosto e, depois, para ocupar o tempo livre. Com a pandemia de covid-19 foi mais complicado, porque às vezes tínhamos de trabalhar mais e faltava um bocado. De resto, ainda há pouco tempo falei com o treinador e acho que é para continuar”, indicou.
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