A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) gastou mais de um milhão e 600 mil euros na elaboração da candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, projeto que foi considerado “subdesenvolvido”, “sem dimensão europeia” e “sem estratégia”, segundo o relatório do processo de pré-seleção tornado público esta semana.
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A candidatura “Correntes de Mudança”, conforme o o Notícias de Coimbra transmitiu em exclusivo, não passou à fase final. O júri publicou um relatório pormenorizado onde constam as razões do afastamento da candidatura de Coimbra, mas também das de Faro, Funchal, Guarda, Leiria, Oeiras, Viana do Castelo e Vila Real. Na corrida ficaram Aveiro, Évora, Braga e Ponta Delgada.
“O painel [de peritos] considera a oferta global subdesenvolvida nesta fase da competição e não ficou convencido de que Coimbra 2027 poderia conseguir levar o programa ao alto nível artístico e dimensão europeia exigida a uma Capital Europeia da Cultura no curto espaço de tempo que resta para a seleção final”, lê-se no documento.
Segundo os especialistas, “não fica claro se a cidade tem uma estratégia de longo prazo assinada pela Câmara Municipal” nem como “essa estratégia seria implementada”.
“Há apenas referência a alguns indicadores quantitativos. Não está claro se deve realizar qualquer avaliação qualitativa. Também não está claro se a Universidade está envolvida em alguma coisa”, lê-se entre as diversas anotações do júri, que considera ainda que o programa “carece de diversidade no que diz respeito aos géneros e formas de expressões”. Era também esperado “um programa mais compacto com descrições de conteúdos e parceiros de cooperação local, nacional e internacional”.
Segundo os peritos, “o desenvolvimento conceptual do programa carece de uma dimensão europeia profunda, que é a razão de ser de uma Capital Europeia da Cultura”. É dito que “temas europeus comuns, como as alterações climáticas, a pandemia, a sociedade cívica, a diáspora do património português são mencionados no entanto, o painel não vê como isto se traduz em projetos específicos de cooperação e cocriação com diversos locais, parceiros, organizações, instituições e
redes “.
O grupo que avaliou as candidaturas mostra-se “preocupado com o facto de [em Coimbra] não terem sido realizados convites abertos à apresentação de propostas de projetos específicos na fase de pré-seleção”, sendo que, nesta fase, “não haveria tempo suficiente para envolver eficazmente a comunidade para a última ronda da competição”
O júri considera ainda que “a percentagem do orçamento anual da cidade para a cultura nos últimos cinco anos é relativamente baixa, de 3,5% e tem vindo a flutuar para cima e para baixo, sem mostrar um padrão claro”.
Apesar de não terem passado a candidatura,
que custou à Câmara de Coimbra “1 638 001,31 euros” sem contabilizar “despesas indiretas, nomeadamente com pessoal”, os especialistas referem que o conceito do bid book “funciona bem”, está “atento à identidade local e coerente com a necessidade para combater os clichés que estigmatizam a cidade”, além de que “visa criar uma centralidade para a cidade e região e rejuvenescê-la”. O projeto, dizem, “contém muitos excelentes elementos que, dado mais tempo, poderiam ter resultado num programa de candidatura interessante”.
O painel recomenda que a cidade de Coimbra desenvolva “o bom trabalho que começou e continue a sua jornada cultural”.
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