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Brasil quer ocupar espaço de Ucrânia na produção de milho
O Brasil, um dos maiores produtores mundiais de cereais, quer ocupar o espaço que a Ucrânia pode deixar no mercado internacional de milho e acredita que tem capacidade para isso, apesar dos muitos desafios que a sua produção ainda enfrenta.
A forte procura e a invasão russa da Ucrânia levaram os preços internacionais do milho ao maior patamar desde 2012, o que está a chamar a atenção dos exportadores brasileiros, segundo fontes do setor ouvidas pela agência espanhola Efe.
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A Ucrânia e a Rússia juntas representam entre 16% e 18% do mercado mundial de exportação de milho.
Quanto à Ucrânia, há muitas dúvidas sobre a viabilidade de sua colheita devido à falta de mão de obra, ocupada na defesa ou a fugir de ataques russos, e de suprimentos, como combustível, e também por causa do bloqueio dos seus principais pontos de exportação.
No caso da Rússia, o cerco económico internacional coloca as suas operações comerciais no exterior em sérias dificuldades.
Com esses dois países fora da equação, o mercado olha para a Argentina e o Brasil, segundo e terceiro maiores exportadores de milho do mundo, respetivamente, atrás apenas dos Estados Unidos.
A Ucrânia é a quarto maior produtor de milho, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
As previsões no Brasil para a segunda safra de milho da temporada são boas, depois de uma primeira que foi afetada por uma seca severa.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) do Brasil estima que a produção total do cereal crescerá 29% na safra 2021/22, atingindo 112,3 milhões de toneladas, impulsionada por essa segunda safra.
“Temos condições de produzir um pouco mais e já estamos a plantar mais do que no ano passado”, explicou à Efe o presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Cesário Ramalho.
“O Brasil tem um potencial de crescimento muito bom e estamos face a uma grande oportunidade. Temos mercado, compradores e área para isso”, acrescentou.
No entanto, existem vários fatores que podem arruinar toda essa expectativa.
Para começar, as previsões meteorológicas não são as melhores e existe a possibilidade de que o fenómeno La Niña dure até junho ou julho.
Nesse contexto, Felippe Serigati, investigador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), considera que se a segunda safra de milho for boa, servirá principalmente para cobrir os danos da primeira.
Além disso, segundo Ramalho, o Brasil consome 70% de sua produção, pois é o maior exportador mundial de carne e boa parte do seu milho é destinada ao fabrico de ração para suínos e aves.
Mas com os preços e a procura internacional em alta, os produtores locais podem começar a olhar mais para o mercado de exportação, movimento que pode ter impacto no cenário nacional.
“O Brasil tem que estar atento porque precisa muito do milho e há um certo pânico. Essa corrida pelo milho preocupa-me”, disse Ramalho.
Além disso, há um problema de altos custos e dúvidas sobre o fornecimento de fertilizantes, ramo em que a Rússia é um grande produtor mundial.
“O setor de milho vai iniciar o próximo ciclo com custos muito altos e a incerteza de ter acesso a esses insumos de produção”, acrescentou o especialista.
No entanto, Ramalho minimizou a possível falta de fertilizantes devido às sanções contra a Rússia e que mobilizou o governo brasileiro em busca de novos fornecedores.
“Temos terras muito bem adubadas. Podemos plantar um ano com menos e nas terras mais férteis mesmo sem elas”, concluiu.
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