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“Não há água ou comida nem para as crianças” em Mariupol
A população de Mariupol não tem eletricidade, água e comida – nem sequer para as crianças – e está a ficar doente devido ao frio intenso, descreveu hoje o responsável da Cruz Vermelha na cidade ucraniana cercada pelas tropas russas.
“As pessoas encontraram formas de recolher água. A câmara municipal está a distribuir garrafas de água em alguns locais, mas não é suficiente para suprir [as necessidades]. Muitas não têm água nenhuma para beber”, relatou Sasha Volkov, numa conversa que foi possível através de um telefone de satélite pertencente àquela unidade do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e cujo áudio foi divulgado pela organização.
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Volkov indicou que “todas as farmácias e lojas foram saqueadas há quatro ou cinco dias”.
“Algumas pessoas têm comida, mas não sei quanto vai durar. Muitas dizem que não têm comida para as crianças”, comentou.
“Estamos a começar a ficar doentes, vários de nós, por causa da humidade e do frio. Tentamos manter uma higiene mínima, mas nem sempre é possível”, ouve-se no áudio divulgado pelo CICV a partir da sua sede, em Genebra, e citado pela agência de notícias espanhola Efe.
Mariupol tem sido uma das cidades mais atacadas nas duas semanas desde que a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia e na quarta-feira foi noticiado o bombardeamento russo de uma maternidade e hospital pediátrico, que fez três mortos, um dos quais uma criança, logo condenado pela comunidade internacional.
O delegado do CICV afirma também que “as pessoas começaram a lutar entre elas por comida e algumas destruíram os carros de outras para tirar a gasolina”.
Na unidade da Cruz Vermelha Internacional em Mariupol, o responsável destinou a cave unicamente para crianças pequenas e suas mães, ao passo que as crianças com mais de 12 anos e os restantes adultos dormem nos escritórios, onde está muito frio e não há qualquer forma de aquecimento.
“Resta-nos algum combustível, com que pomos os geradores a funcionar para termos eletricidade três ou quatro horas por dia. Tentamos fornecer eletricidade às pessoas da rua para que carreguem os seus telemóveis, que usam como lanternas”, explicou.
Nas instalações da organização internacional estão agora 65 pessoas, além de pessoas que habitavam no mesmo edifício e que também foram acolhidas.
Trata-se de um lugar que, em teoria, as partes em conflito não podem atacar, em cumprimento das Convenções de Genebra, que estabelecem as normas que vigoram em tempo de guerra e preveem a proteção dos trabalhadores humanitários.
Volkov disse também que encontrou “uma espécie de mercado negro de verduras que está a funcionar”.
O resto da comida que têm provém das casas das pessoas que ali se refugiaram, mas também das casas de vários colaboradores que foram atingidas pelos bombardeamentos e às quais estes voltaram para tentar recuperar a comida que podia haver no interior.
“Compramos lenha, que é muito importante, porque precisamos dela para cozinhar. Quando a água acabar, vamos ferver água do riacho, pelo que estamos melhor do que outras pessoas”, observou.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 2,3 milhões de pessoas para os países vizinhos – o êxodo mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, e muitos países e organizações impuseram à Rússia sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 15.º dia, causou um número ainda por determinar de mortos e feridos, que poderá ser da ordem dos milhares, segundo várias fontes.
Embora admitindo que “os números reais são consideravelmente mais elevados”, a ONU confirmou hoje a existência de pelo menos 549 civis mortos e 957 feridos.
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