Opinião

A soma de todos os nadas

FERNANDO MARTINS ALVES | 10 anos atrás em 19-12-2014

Tal como Tom Clancy escolheu para título de um livro a frase “a soma de todos os medos”, também a soma de todos os nadas daria um óptimo título literário. Não de um livro de ficção, mas de algo bem real.

Em matemática a soma de nada com nada é nada também. Em política, António Costa está a provar que o resultado é bem diferente.

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Quando, em Setembro passado, António Costa esmagou António José Seguro, algo saltou à vista de todos: Costa venceu sem ter que apresentar ideias, facto que foi amplamente referenciado por apoiantes “seguristas”, jornalistas e comentadores políticos. A este completo nada foi dado o benefício da dúvida por muitos, era uma disputa interna que, apesar de ser para candidato a primeiro-ministro, seria mais um confronto de estilos que propriamente uma escolha de rumo para Portugal. O horizonte apresentava o palco lógico para todos conhecerem os projectos de António Costa, nada melhor que um momento de união e afirmação socialista para o país conhecer as alternativas ao actual Governo.

Foi portanto, com alguma expectativa, que acompanhei o XX Congresso do Partido Socialista, esperava por lá encontrar respostas para as dúvidas que tenho. Melhor ainda, esperava encontrar respostas para as dúvidas que muitos portugueses têm: Quais as alternativas degovernação? Como lidar com o problema da dívida pública?

Não pagar, como sustentava José Sócrates, ou existe actualmente no PS uma visão mais séria do problema? Quais os caminhos a seguir para que Portugal não entre novamente em colapso? Os défices são para manter razoáveis ou devemos contar com valores de mais de 10% como no último Governo PS? Sem se perceberem as respostas a estas e outras questões, não há uma verdadeira alternativa de Governo. Existe apenas um não porque não mas, para isso, já existem dois partidos à esquerda do PS. Deste esperam-se respostas e ideias concretas, concordemos ou não com elas.

O que se verificou então por parte de António Costa? Respostas? Não, apenas mais um enorme nada. Nada de ideias, nada de concreto, apenas umas tiradas avulsas sobre o que não quer, mas sobre o que quer, nada.

Este foi o ponto mais relevante do Congresso do Partido Socialista, sendo que a sua relevância advém apenas de um facto – este nada já é muito mais preocupante do que o nada verificado no confronto com Seguro, já diz respeito a todos os portugueses e não apenas aos socialistas.

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Tudo isto já justificaria a escolha do título, mas ainda falta um enorme nada. Por coincidência, o último primeiro-mistro socialista foi preso antes do congresso.

Sobre as questões de culpa ou inocência de José Sócrates, nada a dizer. A justiça seguirá o seu percurso e as devidas conclusões serão tiradas em tempo próprio, mas existem muitas considerações políticas sobre o assunto.

Uns meros 15 dias antes do Congresso, o actual líder do grupo parlamentar socialista, Ferro Rodrigues, deixou bem claro: “E aqui há que salientar uma pessoa, um nome – José Sócrates”.

Estava definido um rumo político, não eram ideias, não eram respostas, mas era um rumo. Costa, antigo número dois de Sócrates, queria recuperar a herança do ex primeiro-ministro.

Chegado o congresso, Costa optou (e muito bem) em não politizar a questão judicial. Não seria de esperar diferente de um candidato a primeiro-ministro, a compreensão do princípio da separação de poderes é o mínimo exigível. Mas e a questão política? O rumo lançado pelo líder da bancada parlamentar? José Sócrates continua a ser o nome a salientar? A bondade das suas políticas são ainda a única coisa que se pode ter como garantido? Com certeza que o congresso não deixaria de abordar a questão política por detrás da detenção do ex primeiro- ministro.

A todas estas questões António Costa somou mais um gigantesco nada. Mas este nada foi de tal forma absurdo que, por momentos, a reunião magna socialista parecia saída da pena de J. K. Rowling na sua saga “Harry Potter”, também no Congresso do PS existia “aquele cujo nomenão pode ser pronunciado”. E assim foi, sobre as questões políticas da herança do “socratismo”, mais um grande nada.

Este é o caminho de António Costa, construído pela soma de todos os nadas, que contrariamente ao conceito matemático, vai dando frutos se fizermos fé nas sondagens. Mas como é possível que tantos nadas mereçam a confiança de tanta gente? Costa é Costa e isso parece bastar.

FERNANDO MARTINS ALVES

FERNANDO MARTINS ALVES

Vice-Presidente da Distrital de Coimbra do CDS-PP

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