Opinião
Retratos destes dias
Retratos destes dias:
1. A prisão de Sócrates ocupa-nos as orelhas, agora, o dia todo. Não desvalorizando aquilo que poderão (ou não) ser ofensas à legalidade, não nos distraiamos – o governo de Passos de Coelho continua em funções e, pior do que tudo, a legislar a favor da legalização da destruição deste país tal como o conhecemos: eliminando todos os vestígios do SNS, promovendo a municipalização da Educação, privatizando a TAP, acentuando a injustiça fiscal, garantindo as rendas das PPP, prosseguindo políticas económicas que, de forma particularmente programada desde os famosos PEC’s, encontram no trabalho com direitos o alvo a abater. Só no que se refere ao investimento, a governação de Passos Coelho e de Portas fez descer aquela alavanca económica para níveis nunca vistos, com impactos desastrosos na recuperação da economia do País e no desenvolvimento regional. Desde 2011 o investimento público caiu 30% – para níveis inferiores aos de 1996! – e o privado mais de 15%.
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Os vistos gold eram, afinal, a reencarnação de Midas. Como na lenda do Rei da Frígia, operaram o milagre de transformar um governante mau em ministro-modelo. Miguel Macedo transformou-se, do dia para a noite, no ministro que qualquer mãe governativa da família do “arco da ingovernabilidade” ansiaria para seu genro.
2. Os vistos gold eram, afinal, a reencarnação de Midas. Como na lenda do Rei da Frígia, operaram o milagre de transformar um governante mau em ministro-modelo. Miguel Macedo transformou-se, do dia para a noite, no ministro que qualquer mãe governativa da família do “arco da ingovernabilidade” ansiaria para seu genro. E os elogios? Ele foi lucidez, dignidade, sentido de Estado. Como se já não fosse suficiente mau Macedo ter abandonado o posto para “defender o Governo”, a despedida deve-se a um atoleiro que convertia capitais sujos em chave de entrada para a Europa de Lampedusa, concedida por um governo que leva muito a sério a sua tarefa de agência imobiliária de luxo.
Lembram-se do ministro que fingiu encetar um processo de diálogo com representantes dos trabalhadores da segurança pública, ao mesmo tempo que ia anunciando novas medidas penalizadoras para os profissionais das forças e serviços de segurança? E que ia promovendo cortes nos direitos na saúde, um regime disciplinar mais apertado e recessivo para algumas forças, o tratamento desigual no vínculo à lei dos trabalhadores em funções públicas, a degradação das condições de trabalho, fosse do ponto de vista material, fosse do ponto de vista do número de efectivos ? Lembram-se das manifestações de indignação dos polícias nas escadas da AR? Tudo isto foi por conta de Miguel Macedo. Não haja saudades.
3. Não se pense, contudo, que o vespeiro é exclusivo lusitano. Lá longe, na União Europeia do senhor presidente Juncker, há acordos secretos feitos para libertar as multinacionais e os grandes grupos económicos, incluindo os portugueses, de pagar centenas de milhões de euros de impostos Imposto é, cada vez mais, coisa para os povos pagarem duramente e com pesados sacrifícios, empobrecendo até à pobreza extrema, sob o olhar cúmplice e um silêncio de chumbo dos partidos que dominam as instituições da União Europeia, irmãos mais velhos partidos que têm governado Portugal.
4. É urgente inverter o rumo. Sair da cadeira, e da desesperança, e lutar – na rua, pois claro, que é onde as lutas dos povos se fazem vitoriosas (é dos livros, que diabo!). E combater o preconceito no momento de votar. Se necessitarem de compilar informação liguem o Canal Parlamento – não resolve tudo, mas é bastante esclarecedor. E dispensa o recurso aos marcelos & marquesmendes, midas-do-avesso, que convertem esperança em lixo.
MANUEL ROCHA
Militante do PCP
Lider da bancada CDU na AMC de Coimbra
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