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Consumir menos carne nos países ricos reduz em 60% emissões agrícolas

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 anos atrás em 13-01-2022

Consumir menos carne e produtos lácteos nos países ricos ajudaria a reduzir em mais de 60% as emissões poluentes da produção agrícola, e melhoraria a saúde da população, indica um estudo publicado na revista científica “Nature Foods”.

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“Se reduzirmos o consumo de carne também se ´libertam’ terras para outras culturas, o que aliviaria muito os ecossistemas e melhoraria a segurança alimentar em todo o mundo”, disse Martin Bruckner, professor associado da Universidade de Economia de Viena e um dos autores do estudo.

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Citado pela agência de notícias Efe, Martin Bruckner salientou que essas “terras libertadas” poderiam capturar cerca de 100 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), o que ajudaria a limitar o aquecimento do planeta a 1,5 graus celsius em relação à época pré-industrial, uma das metas do Acordo de Paris (2015) sobre o clima e reafirmada na última cimeira da ONU sobre aquecimento global, em Glasgow, no final do ano passado.

O estudo, intitulado “Dietary change in high-income nations can lead to a double climate benefit” (A mudança da dieta nas nações ricas pode levar a um duplo benefício climático), analisa o impacto ambiental da chamada dieta para a saúde planetária, elaborada por cientistas, em 54 países de elevado rendimento.

A dieta baseia-se especialmente em vegetais e num menor consumo de produtos animais, açucares e gorduras saturadas.

Embora a produção de verduras e hortícolas também desempenhe um papel no aumento do aquecimento global, os investigadores propõem várias estratégias para a tornar menos prejudicial para o ambiente.

“A forma mais óbvia e simples de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa é reduzir as principais fontes, nomeadamente a criação de animais (particularmente gado bovino), a produção de arroz e a alteração do uso do solo”, disse Martin Bruckner.

De acordo com o estudo, se os países mais ricos reduzissem o consumo de carne, a terra de cultivo poderia voltar ao seu estado natural, sequestrando 100 mil milhões de toneladas de CO2, o equivalente a cerca de 14 anos de emissões totais da agricultura.

No entanto de acordo com Martin Bruckner, a eficácia das medidas, bem como os resultados da investigação, são limitados pelas atuais políticas agrícolas da União Europeia (UE).

“O pré-requisito para tal é que as áreas libertadas não sejam utilizadas para outros fins, como a produção de bens de exportação ou outras matérias-primas agrícolas, o que é bastante improvável”, lamentou.

A UE é o maior exportador mundial de carne de porco e de produtos de carne de porco. Só a Alemanha, a Espanha e a França são responsáveis por metade desta produção, observa o estudo.

Se estes países não reduzirem a produção e reconhecerem com “honestidade” a gravidade da situação, “o mundo será incapaz de limitar o aquecimento global a 1,5 graus”, advertiu o responsável.

E acrescentou: “Ou os países ocidentais reduzem o consumo de carne de forma controlada ou as alterações climáticas irão, mais cedo ou mais tarde, reduzir a produção global de alimentos e forçar o mundo inteiro a reduzir o seu consumo”.

A mudança nas dietas, inevitavelmente associada à mudança política, requer uma abordagem conjunta às políticas de reforma agrária e medidas climáticas, explica o estudo.

Segundo o documento, as políticas também devem considerar novas fontes de rendimento para os países exportadores de carne, como o Brasil ou a Argentina, que de acordo com Martin Bruckner “terão de encontrar outras fontes de rendimento para os seus produtores agrícolas, que nas últimas décadas cresceram rapidamente e destruíram grande parte dos ecossistemas, como a Amazónia ou o Cerrado”.

“Evitar uma catástrofe climática exigirá mudanças nos nossos estilos de vida e economias, mais mudanças do que comprar produtos locais e colocar painéis solares nos telhados dos edifícios”, disse.

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