Opinião

Oportunismo

TORRES FARINHA | 10 anos atrás em 08-11-2014

Oportunismo, por definição, é a possibilidade de actuar contra os controlos sociais de que são formadas as instituições.

Oliver Williamson atribui ao oportunismo um traço imanente às condutas humanas; refere que o oportunismo supõe que o indivíduo exerce ampla liberdade de escolha entre diversas opções e, portanto, supera os limites de onde derivam as instituições.

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O oportunismo oferece uma explicação geral para a diferença entre sociedades e indivíduos. É mais fácil para um indivíduo enganar os outros do que a si mesmo.

Quando os indivíduos se entregam a ilusões que favorecem os seus interesses pessoais, ou se entregam ao oportunismo, o resultado do seu comportamento não  corresponde ao modelo de racionalidade política expectável do actor unitário.

Segundo Jon Elster deseja-se que o método de agregação das preferências individuais não seja ditatorial e que, além disso, seja invulnerável ao oportunismo; quer dizer, que o indivíduo não seja capaz de, falsificando as suas preferências, produzir um resultado melhor, de acordo com suas verdadeiras preferências, do que aquele que obteria se revelasse essas verdadeiras preferências.

É a vulnerabilidade do oportunismo, pelos detentores de lugares políticos, seja por legítima nomeação, seja por eleição e, nalguns casos, pseudo-eleição, que levam ao compadrio, à incompetência, ao “tachismo”, à custa dos dinheiros públicos, em detrimento do seu bom uso em prol do colectivo e da justiça social.

O oportunismo enfatiza-se com o extremar da incompetência que, em muitos casos, é expectável face à desadequação do perfil de competência do oportunista para o cargo que exerce e, por consequência, pelo potencial de risco para que o exercício do cargo seja por mero oportunismo.

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Só pode ser por mero oportunismo que se constata a “coincidência” desses detentores  de cargos de contratarem a esposa, os filhos, os sobrinhos, as noras e outros familiares mais distantes e terem o desplante de argumentar convictamente que o facto dos “contratados” serem da sua família é apenas “coincidência”, pois por este facto não podem ser prejudicados, numa majoração de coincidências, qual jogo de azar em maré de sorte.

Em complementaridade assiste-se amiúde, a um sentimento de inveja relativo aos casos de sucesso, fruto de trabalho árduo e legítimo que, em vez do júbilo que devia acompanhar o sucesso das pessoas, empresas e, também nalguns casos, instituições, ao denegrir, ao desvalorizar, ao “deitar-abaixo”. No final, quando o oportunista consegue derrotar o alvo de sucesso, amiúde ainda procura o espólio e tudo o que puder colher para si, nem que sejam as últimas migalhas do que restar do que destruiu.

O significado lexical de inveja é de um sentimento de cobiça à vista da felicidade, da superioridade de outrem em relação ao possuidor do sentimento. A inveja é uma sensação ou vontade indomável de possuir o que pertence a outra pessoa, os seus objectos, os seus bens, as suas posses.

De facto, o oportunismo e a inveja são dois sentimentos que andam de mãos dadas, senão como é que podia haver oportunismo se não fosse associado à inveja e correspondente vontade de possuir algo que pertence a uma entidade individual ou colectiva?

É esta mescla negativa que é carreada por muitos detentores de cargos de poder que começam com um sentimento de inveja seguido de oportunismo, a que se segue o aproveitamento e uso dos recursos públicos em prol do próprio e afins e ao empobrecimento das instituições.

É este mix de atitudes que depois é transposto para a sociedade e que, progressivamente vai minando a esperança colectiva e a transformando para uma atitude negativa, qual incêndio empurrado pelo vento que tudo queima à sua passagem, qual vulcão que tudo destrói.

É este rasto de destruição que impede dar dimensão positiva às entidades individuais e colectivas que têm sucesso, que trazem progresso e bem-estar à sociedade, porque a lava destrutiva do vulcão do oportunismo e da inveja tudo soterra à sua passagem.

Só com uma profunda reforma cultural e política é que se conseguirá transformar a energia destrutiva do furacão da inveja e do oportunismo numa forma de energia renovável capaz de alimentar as dinâmicas sociais de forma sustentável, justa e duradoura, com igualdade de oportunidade para todos.

TorresFarinha-1

 

TORRES FARINHA

Investigador

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