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Graça Machel diz que marido foi “assassinado” para calar voz de referência regional 

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 19-10-2021

Graça Machel, ativista e viúva de Samora Machel, considerou hoje que o primeiro Presidente moçambicano foi “assassinado” para calar uma voz de referência na região.

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“Eu quero dizer aos meus filhos, jovens africanos, que estão nos seus 30 ou 20 anos, clamem e recuperem esta voz que se tentou calar aqui”, declarou Graça Machel.

A ativista moçambicana falava durante uma cerimónia que marcou o 35.º aniversário do acidente aéreo que tirou a vida ao primeiro Presidente de Moçambique independente, em Mbuzini, na África do Sul, no memorial e museu criados no local onde o avião se despenhou.

Para Graça Machel, a morte de Samora foi organizada e o objetivo era calar uma referência regional da lista de homens que lutaram contra a opressão do povo africano, uma “linha da frente” ao lado de nomes como Agostinho Neto.

“Muitas vezes pensamos que foi assassinado um líder, sim. Mas com ele também foi assassinada a luta tenaz e incondicional” daqueles líderes, frisou “mamã Graça”, como é conhecida.

O combate contra a pobreza, prosseguiu, deve ser a prioridade dos governos e as riquezas que a África Austral possui devem beneficiar o povo.

“Eu tinha de usar o meu cabelo branco para dizer: filhos meus, estes povos merecem muito mais do que têm recebido”, disse Graça Machel, no mesmo palco em que estavam sentados os presidentes moçambicano, Filipe Nyusi, e sul-africano, Cyril Ramaphosa.

Nyusi enalteceu a família Machel, com a viúva Graça ao seu lado, e fez a ponte entre a visão do primeiro chefe de Estado moçambicano e a atualidade.

“O projeto de Samora Machel está ameaçado por ações macabras em Cabo Delgado”, disse Nyusi, numa alusão à onda de violência que já dura há quatro anos e que se transformou numa guerra que desde julho conta com apoios militares do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Nyusi agradeceu o empenho dos “filhos” da África do Sul em Cabo Delgado e referiu que o apoio militar conjunto está a permitir “travar a agressão” contra o país e “os resultados são promissores”.

Por seu lado, Cyril Ramaphosa salientou ao longo do discurso a proximidade e irmandade entre os dois países.

O primeiro Presidente da então República Popular de Moçambique independente morreu em 19 de outubro de 1986, quando um avião Tupolev se despenhou, durante a noite, em território sul-africano, na zona montanhosa de Lebombo, junto à fronteira com Moçambique.

Um engenheiro de voo e nove passageiros das 44 pessoas a bordo sobreviveram ao acidente que atraiu alegações de sabotagem contra a então administração sul-africana do sistema de segregação racial do ‘apartheid’ e sobre o qual um inquérito da Comissão de Verdade e Reconciliação (TRC) sul-africana, em 1994, foi inconclusivo quanto às causas.

Samora Machel, 53 anos, regressava de uma conferência regional com líderes africanos, em Lusaca, na Zâmbia, e perdeu a vida ao lado de membros do seu partido, ministros, funcionários e tripulação da aeronave russa.

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