Desporto
Vencedores da Volta treinam na Serra da Estrela com adeptos do ciclismo
Quatro vencedores da Volta a Portugal em bicicleta, e os restantes ciclistas da equipa W52-FCPorto, estão durante três dias na Covilhã a fazer um campo de treino com amadores da modalidade e a partilharem os seus conhecimentos.
Além de rolarem na estrada ao lado dos ciclistas que apenas conheciam através da comunicação social, com a novidade de terem carros de apoio e não terem de transportar ‘a tralha’, os 11 participantes têm assistência mecânica, massagens e estão a viver o quotidiano de uma equipa profissional.
Depois de terem estado a observar as bicicletas preparadas e alinhadas em frente ao Sport Hotel, a repararem “nas cassetes”, no “número de dentes” e a preverem “os andamentos rápidos” em relação ao que estão habituados, José Vieira, arquiteto de 40 anos, e Afonso Marto, de 19, trabalhador no ramo hoteleiro, veem chegar Rui Vinhas, que cumprimenta todos com um aperto de mão e entram no autocarro da equipa, onde são convidados a sentarem-se nas confortáveis poltronas e a beberem café.
“Não é comum interagirmos com os adeptos, mas é bom, para darmos a conhecer os bastidores, como trabalhamos. Eu antes de ser profissional praticava ciclismo e sei o que sentem”, frisa Rui Vinhas, vencedor da Volta em 2016, que já na estrada aconselharia um dos novos parceiros “a andar na roda, para sofrer menos desgaste”.
A expectativa de Afonso Marto “é chegar exausto a casa”, mas no final da primeira tirada, plana, de apenas 90 quilómetros, percebe que não vai ser necessário chegar a Fátima até começar a ouvir as queixas do corpo, apesar de andar de bicicleta várias vezes por semana.
Avelino Miguel, 41 anos, de Loures, não conhecia nenhum dos ciclistas e não é de acompanhar etapas inteiras pela televisão, porque o que gosta “é de andar”.
Integrar a iniciativa “é como treinar um bocado com o Cristiano Ronaldo, nem que seja só para dar uns toques”. “Não conseguimos acompanhar, eles são os melhores e as médias que eles fazem estão noutro patamar, mas o pessoal do ciclismo é boa onda e o que espero é que sejam como a malta com quem eu ando ao fim de semana”, previa o adepto.
Durante o primeiro dia na estrada deram-lhe a dica de que talvez o quadro seja demasiado pequeno para si, sentiu “maior confiança” ao ter carro de apoio, satisfez algumas curiosidades sobre o posicionamento em pelotão, a aproximação às subidas, gestão do esforço e no final do dia estava sentado à refeição ao lado de João Rodrigues, Joni Brandão e Amaro Antunes, o vencedor das duas últimas edições da Volta.
“O ritmo deles a brincar é superior ao meu máximo, mas, de repente, parece que já nos conhecíamos”, analisa Avelino Miguel, já a pensar na etapa de hoje, a subida à Torre, na Serra da Estrela. “Espero chegar, não sei é se com eles, agarrado ao carro ou dentro dele”, graceja.
Amaro Antunes percebe a apreensão de subir pela primeira vez a montanha. O trepador partilha que a primeira vez que o fez “foi horrível, bastante duro”.
Embora o andamento seja de quem não está em período de competição, e adaptado ao grupo, o camisola amarela da Volta explica que fizeram “umas brincadeiras”, ensaiaram fugas, ataques, puxaram, como se alguma meta volante estivesse no horizonte, para “simular o ambiente de competição” e proporcionar “essa experiência”, mas realça que “o importante é levar o grupo sempre unido”, até porque é época de defeso e não há ritmos a cumprir.
“Será uma vitória se todos chegarem lá ao alto, porque isto é também sobre ultrapassar barreiras”, salienta o algarvio, satisfeito com a possibilidade de interagir com amadores que têm a mesma paixão pelo pedal.
Para Pedro Marques, 49 anos, do Porto, “a bicicleta é um escape” e estar junto aos atletas que à distância se habituou a admirar, “pelo sacrifício e dedicação”, tal como estar em contacto tão próximo com toda a estrutura, “é tudo lucro” da experiência.
Joni Brandão explica que 2020 “foi um ano triste”, sem convívio. “Este campo de treino é enriquecedor não apenas para os adeptos como para nós. Quando temos de estar focados, estamos, só que temos também de descomprimir e aqui podemos ensinar o que sabemos”, reforça.
Vencedor no alto da Torre e também na Volta de 2019, João Rodrigues elogia “o convívio” e, ao lado dos participantes, à vontade após o primeiro dia juntos, espera conseguir ajudar outros a superarem-se “na etapa mítica”.
“É bom verem como nos preparamos antes das corridas, como treinamos, trocar ideias e desfrutar da bicicleta, mas também podem esperar desafios e momentos de adrenalina”, antecipa o ciclista de Tavira.
Para o campeão nacional de rampa e de fundo, José Neves, “este é um ambiente de descontração, de sair da bolha competitiva”.
Nesta volta não há lideranças, prémios de montanha, tempos a defender, atenção a fugas ou a disputa pela camisola amarela, há a certeza de que todos sobem ao pódio na celebração da modalidade.
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