Um homem acusado de matar a ex-companheira a tiro em Grijó, Vila Nova de Gaia, confessou hoje ao tribunal a autoria dos disparos, mas alegou que o seu objetivo não era o homicídio, mas apenas assustar a vítima.
O homem, de 62 anos, que está preso preventivamente à ordem do processo, começou hoje a ser julgado sob a acusação de ter barrado a marcha do automóvel guiado pela ex-companheira e de a ter matado com dois tiros de caçadeira, tentando o suicídio em seguida, segundo uma acusação do Ministério Público (MP) consultada pela agência Lusa.
Perante um coletivo de juízes de Vila Nova de Gaia, o arguido confessou que disparou um ou dois tiros de uma caçadeira que trazia na mala do seu carro, porque dias antes tinha ido à caça.
Pretenderia apenas atingir os vidros do carro e não a vítima, como acabou por acontecer. Queria apenas assustá-la, garantiu.
A acusação, deduzida por um departamento do MP especializado em violência doméstica, refere que o homicídio culminou uma sucessão de agressões à mulher e à filha menor de ambos, bem como ameaças e chantagens, mas esta acusação foi rejeitada pelo arguido em audiência.
O homicídio foi consumado ao final da manhã de 27 de outubro de 2020 numa rua da freguesia de Grijó, na zona sul do concelho de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, e tudo começou quando o arguido, guiando um veículo de média gama, perseguiu a ex-mulher, que conduzia um automóvel utilitário.
“Tentou, por várias vezes, atravessar o seu veículo na frente da viatura tripulada por esta ofendida, com manifesto propósito que a mesma se despistasse ou se imobilizasse”, descreve o despacho de acusação.
Mais adiante, bloqueou a estrada, obrigando a vítima a parar, atingindo-a no ombro esquerdo com um primeiro disparo de arma caçadeira.
“Não satisfeito”, relata a acusação, fez um segundo disparo, que lhe provocou lesões em várias partes do corpo e que “determinaram a respetiva morte violenta no local”.
Num terceiro disparo, tentou o suicídio.
O casal, ele de 62 anos e ela 20 anos mais nova, manteve uma união de facto entre 2006 até meados de outubro de 2020 e os atos de violência doméstica ocorreram a partir de 2008.
O processo assegura que o arguido nunca exibiu a arma à vítima, mas chegou a declarar-lhe que pegaria numa caçadeira para a matar.
Quando a mulher estava grávida da filha comum (que nasceu a 02 de fevereiro de 2008), fez-lhe saber que mantinha uma relação amorosa com a sua ex-esposa (de quem se encontrava divorciado) e, por várias vezes, agrediu a vítima a murro e a pontapé, chegando mesmo a cortá-la com um vidro, acrescenta o despacho.
A certa altura, passou a agredir também a filha menor do casal, dirigindo-lhe, de acordo com o MP, esta ameaça: “Corto-te o pescoço. Vou para a cadeia, mas vou para a cadeia feliz”.
Está mesmo na cadeia, preso preventivamente à ordem do processo, e julgado sob a acusação de ter praticado um crime de crime de homicídio qualificado e dois crimes agravados de violência doméstica contra a ex-mulher a filha menor de ambos.