Cinema
O cinema de Paulo Rocha pelo olhar de um aprendiz em “A Távola de Rocha”
O realizador Samuel Barbosa estreia esta semana, no Festival de Cinema de Locarno, que começa na quarta-feira, na Suíça, o documentário “A távola de Rocha”, através do qual recorda pessoas, épocas e paisagens do cinema de Paulo Rocha.
“Trilho os lugares por onde ele passou à procura de um filme”, diz o realizador Samuel Barbosa, narrador omnipresente, nos primeiros minutos desta longa-metragem dedicada à vida e à obra cinematográfica de um dos fundadores do Cinema Novo português.
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Samuel Barbosa foi assistente de Paulo Rocha desde 2001, e a ideia de se fazer um filme biográfico chegou a ser falada entre ambos, mas o projeto mudaria de rumo quando Paulo Rocha morreu, em 2012, lê-se no dossier de imprensa.
Em “A távola de Rocha”, Samuel Barbosa convoca algumas pessoas que trabalharam de perto com Paulo Rocha, nomeadamente os atores Luis Miguel Cintra e Isabel Ruth, a escritora Regina Guimarães, e escuta-lhes histórias de bastidores dos filmes.
Uma dessas histórias é contada por Isabel Ruth, no jardim do Campo Grande, em Lisboa, percorrendo os mesmos passos de uma das cenas do filme “Os Verdes Anos” (1963). Era uma cena romântica e Isabel Ruth julgava que haveria um beijo com o ator Rui Gomes, que Paulo Rocha não quis que acontecesse.
“Que eu me lembre, acho que nunca vi um beijo num filme do Paulo Rocha”, verifica Isabel Ruth, a atriz que Paulo Rocha mais filmou ao longo da carreira e que fixou como um dos rostos do Cinema Novo.
No documentário, Samuel Barbosa expõe a sua própria vivência de trabalho com o cineasta e recupera declarações de Paulo Rocha, registadas em imagens de arquivo, a propósito do processo criativo.
Com recurso ao arquivo fílmico depositado na Cinemateca Portuguesa, é ainda aflorado o passado familiar, a relação com a mãe; são incluídos depoimentos do irmão e é traçada uma procura dos locais por onde Paulo Rocha passou no Japão, onde viveu como adido cultural.
Paulo Rocha, um cineasta “raro e secreto, autor de uma obra estilizada e contemplativa, cósmica e panteísta”, como escreveu a Cinemateca Francesa, morreu no final de 2012, deixando completo o filme “Se eu fosse ladrão… roubava”.
Este filme, no qual Paulo Rocha recuou às memórias da família e do seu cinema, foi exibido em 2013, em estreia mundial, precisamente no festival de cinema de Locarno, com o qual teve uma ligação desde o primeiro filme, “Os verdes anos”, premiado em 1964.
Paulo Rocha, que estudou Direito em Lisboa e cinema em França, foi assistente de realização de Jean Renoir e de Manoel de Oliveira, e assinou outros filmes como “Mudar de vida” (1966), “A Ilha dos Amores” (1982), “A Raiz do Coração” (2000) e “Vanitas” (2004).
“A távola de Rocha”, produzido pela Bando À Parte, terá estreia mundial no domingo, 08 de agosto, em Locarno, na secção “História(s) do Cinema”, e será exibido ainda este mês no festival IndieLisboa.
A programação do festival de Locarno inclui também “Hotel Royal”, de Salomé Lamas, no concurso de ‘curtas’ de autor da secção “Pardo di domani” (“Leopardo de Amanhã”), e a trilogia “Pathos Ethos Logos”, com mais de dez horas de duração, de Joaquim Pinto e Nuno Leonel, fora de competição.
A atriz Leonor Silveira está entre os jurados da competição internacional.
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