Coimbra
5 anos depois do Euro golo: Éder continua a ser um herói para as crianças do Lar O Girassol que o acolheu
Localizado em Alcarraques, Coimbra, o Lar O Girassol acolhe crianças desde os seis anos de idade até aos 25 anos. Éder Lopes, o “herói” nacional que no dia 10 de agosto marcou o único golo na final do Europeu de 2016 e que garantiu a conquista do título para Portugal, entrou para Lar O Girassol em 1996, com oito anos de idade, instituição onde permaneceu até 2007, com cerca de 18 anos, quando começou a jogar futebol de forma profissional.
Depois do feito alcançado por Éder em 2016, foi com grande entusiasmo que o Lar O Girassol acompanhou os jogos da seleção no Euro 2020, apesar da desilusão por o jogador não integrar a equipa nacional.
“Os jovens acompanharam todos os jogos da seleção nacional no Euro 2020. São muito defensores da nossa seleção, sentem orgulho de termos sido campeões europeus com um golo marcado pelo nosso Éder. Ele é o grande motivo de orgulho do Lar o Girassol, refere Filipa Nobre, psicóloga na instituição desde 2001.
Filipa Nobre começou a trabalhar como psicóloga na IPSS “O Girassol” quando o Éder tinha 12 anos de idade, altura em que iniciou o seu percurso no futebol a jogar na Associação Desportiva e Cultural da Adémia, em Coimbra. Desde cedo que todos na instituição sabiam que o futebol era a grande paixão de Éder, “sabíamos que era o grande sonho dele, o que ele mais gostava de fazer”. E assim que o jogador teve a sua forma de subsistência na área do futebol, ainda antes de ir para a Académica, o próprio Éder se quis desvincular da instituição e seguir o seu percurso profissional.
Os momentos em que a seleção nacional jogou no Euro 2020 foram vividos com muita intensidade por todos os jovens do Lar O Girassol, que pelo feito de Éder acreditavam numa renovação do título de campeões europeus de futebol. Desta forma também a instituição preparou atividades para esses momentos, com cachecóis e chapéus da seleção, e sumos e petiscos para esses 90 minutos de expectativa mas também de diversão.
Filipa Nobre refere que uma das atividades consistiu em que cada um dos meninos escrevesse uma frase do hino nacional em papel cenário, para que no início do jogo todos tivessem a letra e soubessem cantar o hino e desta forma conseguissem acompanhar esse momento. “Esse painel ficou na sala ao lado da televisão, onde esteve também um quadro do Éder”.
Apesar de o jogador de futebol já ter saído do Lar o Girassol há 14 anos, os laços permaneceram. Éder visitou o Lar na altura do Europeu de 2016, e chegou a convidar jovens da instituição para o seu casamento, em 2017. Com o atual contexto pandémico as visitas ao Lar O Girassol não são tão regulares como o próprio e todos os jovens gostariam, explica Filipa Nobre que mantém contacto frequente com o jogador.
Esse contacto que o futebolista mantém sobretudo com colegas da altura e funcionárias que o acompanharam é prática comum na instituição. Filipa Nobre elogia a comunicação que permanece entre a instituição e os jovens, mesmo após as suas saídas, onde no decorrer dos seus percursos de vida continuam a contactar os funcionários do Lar.
Apesar de uma capacidade para acolhimento de 40 crianças e jovens, neste momento a IPSS acolhe 20 jovens, o mais pequeno com nove anos de idade e o mais velho com 18 anos.
Os jovens podem ficar na instituição desde os seis anos de idade até aos 25 anos. O prolongamento da permanência na instituição dos 18 anos até aos 25 obedece a critérios específicos, explica a psicóloga, se essa for a vontade do jovem em casos concretos como exemplo de serem estudantes sem autonomia financeira. Para esse efeito o jovem pede prorrogação de medida ao tribunal após os 18 anos de idade e podem permanecer na instituição como forma de apoio. O principal objetivo do Lar é permitir dar aos jovens uma estrutura próxima do conceito de família, e trabalhar para reintegração familiar ou outra alternativa de projeto de vida.
O Lar O Girassol acolhe crianças cujos agregados familiares sofrem algum tipo de desorganização, em casos de maus-tratos físicos e psicológicos, sendo os psicológicos os mais delicados de provar, em casos de abusos ou situações de negligência.
A institucionalização é sempre realizada pelo tribunal com uma avaliação da Segurança Social. O processo de retirada da família decorre por duas vias. Quando há consentimento a retirada pode ser realizada pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), quando não há esse consentimento familiar é o Tribunal que decreta a retirada. No caso de Coimbra, é competência do Tribunal de Família e Menores, mas Filipa Nobre acrescenta que existem casos de crianças e jovens institucionalizados provenientes de casos decorrentes em outros tribunais.
Na maioria dos casos as visitas mantêm-se entre a criança e a família, algumas das visitas com a obrigatoriedade de serem acompanhadas por profissionais. Noutros casos as visitas estão interditas, como nos casos em que um abusador fica proibido de contactar com a vítima, explica a psicóloga da instituição.
Apesar de os jovens permanecerem no Lar O Girassol, a escola e todas as restantes atividades são realizadas fora da instituição, tal como acontece numa família tradicional. O desporto continua a ser uma das apostas, com muitos jovens a praticar futebol com a ambição de seguir as pisadas de Éder, mas também rugby, tanto da Académica como da Agrária, voleibol, ginástica, natação, atletismo, entre outros.
Sobre o período de confinamento Filipa Nobre explica que foi necessário uma maior gestão da instituição nesse período, sobretudo devido à questão das aulas online e a necessidade de gerir os computadores disponíveis. A psicóloga entende que ainda assim a instituição apresenta a vantagem de ter uma vasta área ao ar livre, que os jovens aproveitaram para a prática de atividade física e de lazer.
Inglaterra e Itália defrontam-se hoje na final do Euro2020 de futebol, procurando suceder a Portugal na galeria dos campeões, com os ingleses a tentarem em casa uma conquista inédita, enquanto a Itália procura o seu segundo título continental.
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