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Rendimento Social de Inserção é uma ajuda para “sobreviver” à dureza dos dias

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 26-06-2021

Sara, Vânia, Igor, Aline e Maria partilham uma história em comum: a de quem, em circunstâncias aflitivas, teve de recorrer ao Rendimento Social de Inserção (RSI) para “sobreviver” à dureza dos dias e tentar “recomeçar a vida do zero”.

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“É o único recurso que existe quando não temos nada”, disse à Lusa, Sara, de 41 anos.

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Há menos de um ano, Sara mudou-se com os filhos de 5 e 3 anos para uma habitação social no Porto, mas a sua realidade não era esta.

Com um mestrado em psicologia clínica e outro em fotografia, fez serviço de voluntariado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e no Hospital de Santo António, no Porto.

Deu aulas de fotografia, mas o contrato não foi renovado e ficou a receber o subsídio de desemprego. À época, sem filhos e com “problemas de endividamento”, requereu o RSI e os 170 euros eram “o suficiente para respirar”.

“É um exercício de sobrevivência”, admitiu Sara, cujo filho mais velho foi diagnosticado com autismo e a filha com perturbações de desenvolvimento.

“Não sei se teria capacidade de arranjar um trabalho e conseguir dar a esta criança o que ela tem direito”, confessou Sara, que já requereu o estatuto de cuidador informal, mas que aguarda que a situação seja formalizada.

Em 2020, eram 15.433 os beneficiários do RSI no Porto. Destes, a maioria eram mulheres, algumas das quais em situação de monoparentalidade.

Com uma filha de 11 anos, Vânia Vieira, de 42, teria “caído num poço se não fosse” o RSI.

“Quando não se tem nada, seja qual for a ajuda, é uma maravilha”, confessou à Lusa.

Vânia trabalhou durante um ano e meio num hipermercado, mas o contrato não foi renovado. Durante seis meses recebeu o subsídio de desemprego e logo entrou a pandemia.

As despesas e dívidas de Vânia vão aumentando e, à noite, roubam-lhe o sono, tal é o receio que lhe batam à porta para anunciar o despejo da casa arrendada onde vive há nove anos sozinha com a filha.

“Nunca pensei chegar ao ponto de não conseguir pagar a renda”, afirmou Vânia, que já fez um “pouco de tudo”, mas que hoje, não encontra emprego “por força da pandemia”.

“Ninguém está livre de hoje para amanhã ficar nesta situação. Esta não foi uma escolha minha”, salientou.

Igor Marques e Aline Vilhena, de 37 anos, queriam sair do Brasil e em setembro de 2019 escolheram “apostar no Porto”.

Em São Paulo, estavam “bem instalados”. Igor, psicólogo há 15 anos, tinha um consultório e trabalhava com instituições. Aline era gerente administrativa de uma empresa.

“Por mais que tivéssemos a expectativa de que iria correr bem, a incerteza veio configurada na forma de pandemia”, salientaram.

Do Brasil trouxeram “uma reserva”, mas a diferença entre o euro e o real “aumentou 25% em janeiro de 2020” e o que tinham “já não dava para os planos traçados”.

Aline frequentou o mestrado em sociologia na Universidade do Porto e Igor arranjou emprego em março na restauração. Trabalhou dois dias e logo se impôs o primeiro confinamento.

Em junho de 2020, recorreram ao RSI. O apoio e os cabazes alimentares foram os seus “únicos amparos”.

Em abril, Igor retomou o cargo na restauração com contrato sem termo e, em maio, Aline começou a trabalhar na área de apoio ao cliente numa empresa de telecomunicações.

Para breve deve estar a suspensão do apoio e no rascunho guardam alguns planos. Até lá, vão continuar a procurar um trabalho que vá ao encontro das suas habilitações profissionais.

Se para uns, a pandemia veio dificultar a procura de emprego, para outros, permitiu “recomeçar a vida do zero”.

“Estávamos num buraco”. É assim que Maria Madureira, de 42 anos, descreve a situação em que se encontrava, em 2018, a sua família.

A empresa onde trabalhara durante três anos entrou em insolvência e o negócio do marido, que trabalhava por conta própria, “não correu bem”.

A convicção de que era “só uma fase menos boa” e que conseguiam “dar a volta por cima”, fez com que o pedido de ajuda tardasse. Com três filhos menores, o casal foi aconselhado a requer o RSI, mas “por vontade própria nunca o teria feito”.

Entre artesanatos, doces e cabazes alimentares, o subsídio ia ajudando, tanto a “encher os armários”, como a pagar a renda e todas as despesas inerentes. 

Com o 12.º ano e técnica de contabilidade, Maria foi a várias as entrevistas de emprego, mas o “4 na idade” não ajudava, até ter sido contactada pela Fundação Padre Luis para uma vaga como administrativa num centro de saúde do ACES Espinho/Gaia, no âmbito do MARE.

Do projeto ao contrato de trabalho por tempo indeterminado “foi um pulinho” e ainda “levou o marido”, que exerce também funções de secretariado clínico num outro centro de saúde.

Ultrapassada a “tormenta”, Maria guarda uma certeza: “Infelizmente, há muitas Marias escondidas e com vergonha de pedir ajuda”.

O Rendimento Social de Inserção nasceu há 25 anos, a 01 de julho de 1996, como Rendimento Mínimo Garantido. É uma prestação social para as pessoas que estão numa situação de pobreza extrema. É constituída por uma prestação em dinheiro e por um programa de inserção, ao qual está associado um contrato que estabelece as condições e os objetivos para uma progressiva inserção social, laboral e comunitária dos beneficiários. Atualmente recebem esta prestação quase 218 mil pessoas.

 

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