O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Manuel Barbosa, classificou hoje de “atentado à dignidade humana” situações como as vividas em Odemira com trabalhadores do setor agrícola, muitos deles imigrantes, e pediu que não sejam esquecidas pelas autoridades.
“O apelo da conferência, da Igreja local, tem sido nesse sentido, que não se esqueçam, antes pelo contrário, se tome isso a peito, porque são situações de atentado à dignidade humana”, afirmou o padre aos jornalistas em Fátima, após a reunião do Conselho Permanente da CEP.
Manuel Barbosa recordou que, em novembro de 2018, a Assembleia Plenária da CEP já tinha deixado este apelo.
“A assembleia manifestou preocupação com as notícias acerca do tráfico de pessoas, escravatura e exploração humana, também no nosso país, e pede a maior atenção das autoridades e da sociedade a este problema”, recordou, citando o comunicado divulgado na ocasião.
Questionado sobre a forma como a Igreja Católica tem passado esta mensagem, o porta-voz mostrou-se convicto de que, “certamente, essa voz da Igreja é ouvida”.
Manuel Barbosa lembrou que os bispos, os padres, os leigos e várias organizações têm manifestado a sua preocupação com a situação dos trabalhadores.
“Esperemos que as coisas se resolvam e que esta situação seja ultrapassada”, frisou.
Segundo o porta-voz da CEP, “localmente, a própria Igreja, as comissões a nível paroquial, têm feito um grande apoio a essas pessoas”.
“A nível jurídico não tenho conhecimento, mas certamente também haverá [apoios]. É preciso o trabalho continuar e cabe às autoridades assumir isso”, acrescentou.
Hoje, foi levantada a cerca sanitária em Longueira-Almograve e São Teotónio que tinha sido decretada no dia 29 de abril, devido à elevada incidência de casos de covid-19, sobretudo em trabalhadores do setor agrícola, muitos deles imigrantes.
Os casos detetados na pandemia entre os imigrantes que trabalham na agricultura denunciaram as condições desumanas em que vivem.
Após a cerca sanitária, o Governo determinou a requisição civil do empreendimento Zmar, em Odemira, para alojar pessoas em confinamento obrigatório ou permitir o seu “isolamento profilático”, tendo os moradores apresentado uma providência cautelar que foi aceite pelo tribunal.
Entretanto, 49 imigrantes que trabalham na agricultura na região foram realojados no Zmar (21) e na Pousada da Juventude de Almograve (28), numa operação que decorreu de madrugada quinta-feira e que alguns acusam de ter sido feita com recurso a uso excessivo de força.
No domingo, 23 dos 49 trabalhadores agrícolas imigrantes que se encontravam no complexo turístico Zmar e na Pousada da Juventude de Almograve foram realojados em residências disponibilizadas por 12 empresas agrícolas.