Coimbra
Rui Rio critica estratégia de “ostracizar” extrema-direita e prefere traçar “linhas vermelhas”
O presidente do PSD, Rui Rio, criticou hoje a estratégia que considera estar a ser seguida na Europa de “ostracizar” a extrema-direita, admitindo ser preferível aceitar o apoio desses partidos, mas sem “nunca permitir que passem linhas vermelhas”.
Numa iniciativa online organizada pela JSD de Lamego sobre “Importância da ética na política e no exercício da vida pública”, Rio foi questionado diretamente por um dos jovens, Pedro Miguel, sobre “onde encontra ética” no acordo com o Chega nos Açores ou na candidatura autárquica de Suzana Garcia à Amadora.
Sobre o Chega, Rio reiterou que o acordo que permitiu o apoio ao Governo Regional por dois deputados do partido liderado por André Ventura foi feito pelo PSD/Açores, com a concordância da direção nacional, e que considera em nada ter “ferido os princípios éticos ou até políticos” do partido.
Perante a insistência do jovem, que questionou Rio se o PSD aceita o apoio desse partido desde que mantenha as suas “ideias reprimidas”, Rio desenvolveu qual entende ser a melhor estratégia para lidar com a extrema-direita.
“A extrema direita vai a eleições e há quem vote nela, um voto de um português no Chega – tal como de um francês na Le pen, ou no Vox em Espanha – é um voto igual ao dos outros, quando chega ao fim tem um resultado que espelha a vontade do povo”, afirmou, defendendo não ser correto “do ponto de vista democrático e até de estratégia política ignorar a vontade do povo”.
Para Rui Rio, “ignorar a vontade do povo será dar força” aos que se quer “hostilizar”.
“Nos parâmetros da democracia, cabe aceitar esses votos e, por interposta pessoa, aceitar os votos desses deputados, desde que tudo aquilo que possam querer fazer não fira o que são as linhas vermelhas que cada partido tem”, frisou.
Retomando uma ideia que já defendeu no seu discurso do 25 de Abril, o presidente do PSD defendeu que “não é com cordões sanitários nem com artigos de opinião radicais” que se trava o crescimento da extrema-direita, apontando que essa estratégia está a ser seguida na Alemanha, onde partidos desse espetro já atingem os 25% dos votos, ou em França, mas sem sucesso.
“É um drama (…) Não me parece que seja uma coisa muito boa para a Europa ter uma extrema-direita cada vez com mais força e continuar com essa estratégia. Coisa diferente é não ostracizar, mas nunca permitir que passe a linha vermelha. O partido extremista até está integrado, mas apenas no que é aceitável em democracia”, defendeu, considerando esta a “postura mais correta”, “quer do ponto de vista democrático, quer do ponto de vista estratégico”.
Quanto à candidata apoiada pelo PSD à Câmara da Amadora, Rio salientou que Suzana Garcia tinha sido convidada anteriormente pelo Chega e recusara.
“Como podemos dizer que é do Chega ou que tem simpatias pelo chega, quando ao Chega disse não e ao PSD disse que sim?”, afirmou.
Rio admitiu que “algum excesso verbal” da advogada nos seus comentários televisivos “pode não ser coincidente com a forma clássica de um militante do PSD se exprimir”, mas considerou que, em artigos escritos no Observador, nada viu que “fira os princípios do PSD”.
“Num contexto de candidatura é bom que não tenha linguagem parecida, porque são contextos completamente diferentes. Mas, para lá do estilo, não vejo que ela tenha afinidade direta com o Chega”, afirmou.
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