Portugal

Morreu Carlos do Carmo: António Costa recorda “cumplicidade política” que se tornou “bela amizade”

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 01-01-2021

O primeiro-ministro, António Costa, lembrou hoje a “cumplicidade política” que se tornou “numa bela amizade” com Carlos do Carmo e considerou que o artista foi decisivo para libertar o fado e reconciliá-lo com a democracia.

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“Foi fundamental para reconciliar o fado com a nossa democracia e libertá-lo da ideia tão errada da tentativa de apropriação por parte do Estado Novo. Foi decisivo para essa libertação”, disse António Costa à agência Lusa.

O chefe do Governo considerou Carlos do Carmo “um dos pilares fundamentais” da candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade e “alguém que se empenhou muito na renovação geracional do fado”.

“Apoiou e estimulou muito os novos fadistas porque tinha noção de que era fundamental para preservar o fado que continuasse a haver novas vozes que lhe dessem continuidade”, assinalou.

O primeiro-ministro, que durante a manhã de hoje tinha já evocado Carlos do Carmo como um “notável fadista” e “um grande amigo” numa mensagem na rede social Twitter, lembrou, numa nota mais pessoal, a última conversa com o cantor.

“Falamos ao telefone no dia 24 e combinámos ir jantar ao Poleiro, onde costumávamos jantar, mal eu saísse do confinamento. Vai ficar por fazer esse jantar com ele”, disse António Costa à agência Lusa.

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“Para mim foi uma perda imensa como amigo e é um momento de grande tristeza. Uma forma muito triste de começar este ano que queríamos que fosse de viragem”, acrescentou, sublinhando o “privilégio de podermos ficar com a voz do Carlos do Carmo para sempre”.

Com um percurso político ao PCP, Carlos do Carmo foi mandatário de António Costa na campanha de 2009 para a Câmara Municipal de Lisboa e participou igualmente num almoço de campanha do PS nas legislativas de 2015, em que recusou definir-se como simpatizante socialista, dizendo antes ser um apoiante de Costa.

“Deu-me a honra de ser meu mandatário quando fui candidato à Câmara de Lisboa e não se limitou a dar o nome, o prestígio e a acompanhar-me na campanha eleitoral”, disse, recordando a forma como o fadista monitorizava o progresso das promessas feitas durante a campanha.

“Tinha o hábito de guardar sempre os folhetos de campanha e periodicamente íamo-nos encontrando e fazia questão de ir verificando como é que tinha sido executado cada ponto do programa. Via ponto a ponto se tudo se cumpria, porque é que havia atrasos”, recordou.

“Foi uma cumplicidade política que se transformou numa bela amizade”, acrescentou António Costa, sublinhando que já na chefia do Governo, Carlos do Carmo nunca lhe faltou com “palavras carinhosas” sobretudo nos “momentos mais difíceis”.

“Nunca me faltou com um telefonema e uma palavra de amizade, mas também com críticas, sugestões e ideias”, disse.

Lamentando a morte do cantor, António Costa endereçou condolências à mulher e aos filhos de Carlos do Carmo, prometendo para quando a necessidade confinamento provocada pela pandemia terminar “a grande homenagem” pública ao fadista.

O Governo decretou hoje um dia de luto nacional para segunda-feira, pela morte do fadista, que será também homenageado do espetáculo de abertura da Presidência Portuguesa da União Europeia.

O Governo propôs ainda ao Presidente da República a atribuição da Ordem da Liberdade, a título póstumo, “pelo determinante papel que Carlos do Carmo teve na renovação do fado, atribuição que, de resto, já estava prevista”.

O fadista Carlos do Carmo morreu hoje de manhã aos 81 anos no hospital de Santa Maria, em Lisboa, disse o filho Alfredo do Carmo à Lusa.

Nascido em Lisboa, em 21 de dezembro de 1939, Carlos do Carmo era filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998) e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística em 1964.

Vencedor do Grammy Latino de Carreira, que recebeu em 2014, o seu percurso passou pelos principais palcos mundiais, do Olympia, em Paris, à Ópera de Frankfurt, do ‘Canecão’, no Rio de Janeiro, ao Royal Albert Hall, em Londres.

Despediu-se dos palcos no passado dia 09 de novembro de 2019, com um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

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