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“Mariza canta Amália” e define novo álbum como “banda sonora de Lisboa”
A fadista Mariza canta Amália Rodrigues no seu próximo álbum, projeto que acalentava “há alguns anos” e que publica na próxima sexta-feira, dia 20, e considera-o “uma banda sonora de Lisboa”, como disse em entrevista à agência Lusa.
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“Há muito tempo tinha a ideia deste tributo”, disse a fadista sobre “Mariza canta Amália”, referindo que o projeto se concretiza quando a criadora de “Ó Gente da Minha Terra” completa 20 anos de carreira, aniversário que coincide com o centenário do nascimento de Amália Rodrigues (1920-1999).
O novo álbum marca o reencontro da intérprete com o músico brasileiro Jaques Morelenbaum, que também produziu o disco “Transparente” (2006) e que teve como referência o álbum “Sinatra Canta Jobim”.
Sobre o repertório de Amália, Mariza salientou “os poemas geniais e as músicas maravilhosas”. “A ideia era fazer algo intemporal, e continuar a ser apetecível ouvir estes temas”, acrescentou.
“O legado de Amália tem de ser ouvido de uma forma despretensiosa, e sem ser apenas à guitarra e à viola. Daí as orquestrações feitas para este CD. O que interessa é música bem feita”, disse, acrescentando que, no repertório ‘amaliano’, “há muita coisa, tão boa”.
Neste CD, Mariza gravou, entre outros, “Formiga Bossa Nova” (Alexandre O’Neill/Alain Oulman), “Estranha Forma de Vida” (Amália/Alfredo Marceneiro), “Com que Voz” (Luís de Camões/Alain Oulman) ou “Povo que Lavas no Rio” (Pedro Homem de Mello/ Joaquim Campos).
“Escolhi aquilo que conheço, representativo do seu repertório [de Amália] e que faz parte do nosso imaginário”, afirmou Mariza.
Não é a primeira vez que a fadista grava temas do repertório ‘amaliano’. Logo no seu primeiro álbum, “Fado em Mim” (2001), gravou “Maria Lisboa”, “Oiça lá Senhor Vinho” e “Que Deus me Perdoe”, que recupera neste novo título.
Ao longo da carreira, Mariza foi recriando temas do repertório de Amália Rodrigues, como “Barco Negro” (Caco Velho/Piratini, numa adaptação da letra por David Mourão-Ferreira), que inclui no alinhamento do novo CD, ao lado de “Lágrima” (Amália/Carlos Gonçalves), “Cravos de Papel” (António Sousa Freitas /A. Oulman) ou “Fado Português” (José Régio/A.Oulman).
Questionada sobre as expectativas que tem da receção deste novo disco pelo público, Mariza respondeu que não reflete nunca sobre esta questão: “Faço o que dá vontade, como sempre fiz”.
A intérprete conta começar a apresentar este novo trabalho em palco “em finais de 2021”.
O novo álbum foi gravado entre o Rio de Janeiro e Lisboa, e Mariza é acompanhada, entre outros, pelos músicos Bernardo Couto e Luís Guerreiro, na guitarra portuguesa, Cristóvão Bastos, no piano e acordeão, Lula Galvão, no violão, Jorge Helder, no contrabaixo, Andrea Ernest Dias, na flauta baixo, Rafael Barata, na batería, e Marcelo Costa, na percussão.
Referindo-se ao atual panorama artístico, afirmou que “são tempos conturbados e difíceis”.
A criadora de “Os Anéis do Meu Cabelo” (A. Botto/T. Machado) disse à Lusa que, este ano, dos 110 espetáculos agendados, apenas concretizou cinco.
Refletindo sobre os 20 anos de carreira que está a celebrar, Mariza disse que “mudaram muitas coisas no meio artístico: a forma como recebem o fado, e como olham para a música portuguesa, que é agora mais ouvida nas rádios”. E reconheceu o seu contributo para esta alteração.
“Há 20 anos, as editoras discográficas não queriam gravar fado, que não achavam uma música tão apetecível. Os jovens estavam afastados, e não havia uma liberdade artística tão grande, desde os fatos em palco à utilização de instrumentos”, argumentou.
Mariza afirmou-se uma artista cujo percurso reflete a sua “cultura mista”, sublinhando que “há ainda tanta coisa por fazer”.
A intérprete de “Tasco da Mouraria” (Paulo Abreu Lima/Rui Veloso) reconheceu ter contribuído com “uma abertura”, para o género, mas “com uma grande inocência”.
Mariza, natural de Moçambique, começou a cantar na casa de fados Senhor Vinho, em Lisboa.
Ao longo da carreira, conquistou diferentes prémios internacionais, nomeadamente o BBC Radio 3 Award for World Music para a Melhor Artista Europeia, em 2003 e 2005, o Prémio Amália Rodrigues Internacional, em 2005, e o European Border Breaker Award, em 2004.
A fadista recebeu, também em 2004, o Prémio da Associação da Imprensa Estrangeira acreditada em Portugal, como Personalidade do Ano. Logo no início da carreira, em 2001, recebeu a Deutsche Schallplatten Kritik, prémio da Crítica alemã.
Em 2005, foi uma das 30 personalidades que a Fundação Hans Christian Andersen nomeou embaixadora da obra do escritor dinamarquês.
Em 2006, recebeu o Globo de Outo SIC/Caras.
Em 2010, recebeu a medalha de Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres, atribuída por França.
Portugal distinguiu-a com a Ordem do Infante D. Henrique, em 2005.
A cantora já atuou, entre outros palcos, no Hollywood Bowl, em Los Angeles, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, na Sidney Opera House, no Palau de la Música, em Barcelona, no L’Olympia, em Paris, na Alte Oper (Ópera Antiga) de Frankfurt, e no Royal Festival Hall, Royal Albert Hall e Queen Elizabeth II Hall, em Londres.
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