Câmaras
Coimbra no deserto
O movimento Cidadãos Por Coimbra está a propor a todas as instituições da cidade (“das autárquicas, às do ensino superior, às sindicais e empresariais, aos serviços públicos”) uma proposta urgente para defender e valorizar a cidade no país denominada Coimbra no deserto, pela sua importância para o futuro da cidade, NDC publica na integra o documento do CPC.
Tornou-se claro desde há muito que Coimbra é a maior vítima da falta de uma visão séria, não casuística e não distorcida sobre o ordenamento do território continental. E tem sido uma vítima calada, ou mesmo submissa. Toda a lógica prevalecente em matéria de mobilidade, para já não falar do valor a dar a uma rede urbana em que o seu lugar é importante, parece que teve como finalidade “afastar” Coimbra do sistema criado, despromovendo a sua centralidade – nas duas últimas décadas a maioria das distâncias-tempo das principais cidades aos grandes centros reduziram-se em largas dezenas de minutos, mas não relativamente à nossa cidade.
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De facto, as grandes infraestruturas e equipamentos e as principais ligações andaram sempre “por todo o lado”, para onde foram “puxadas” por autarcas “diligentes”, mas não por aqui, como se Coimbra repelisse e ninguém defendesse o interesse público no plano nacional: veja-se a rede de autoestradas, que cuidou com zelo de áreas com menor densidade urbana ou das que já estavam bem servidas; veja-se como Coimbra é a única cidade importante que não dispõe de uma lógica de mobilidade circular regional que envolva a cidade; veja-se, enfim, a forma caricata e provocatória como se interrompeu a obra da A13, que podia cumprir essa função, nos “céus” do vale do Ceira. Para além disso, há tudo o que não se fez em Coimbra, quando uma cidade com a valia urbana da nossa o exigia como prioridade: uma estação ferroviária ou uma estação rodoviária dignas, em vez da vergonhosa situação de Coimbra B ou da malfadada “garagem” de autocarros urbanos; ligações Coimbra-Viseu ou Coimbra-Covilhã seguras e dignas; ligações coerentes dentro da comunidade intermunicipal, onde o exemplo mais grave é o acesso a Oliveira do Hospital, para só dar alguns exemplos.
Como se tudo isto não bastasse, eis que se apresenta agora um Plano Estratégico dos Transportes e das Infraestruturas (PETI) de mais de 6 mil milhões de euros que trata o país como se fosse um simples retângulo a que houvesse apenas que sublinhar os lados, designados corredores, dentro dos quais fica um deserto. Coimbra, a única zona urbana de dimensão e qualidade significativas fora das áreas metropolitanas ou dos ditos “corredores”, é ignorada e convertida em deserto, num mapa obsceno em que se cria um vazio gritante, correspondente ao sistema urbano em que a nossa cidade é relevante. Imagina-se assim um país apoucado em que se pode levianamente desconsiderar um território tão importante como este. E, como se isso não bastasse, eis que autarcas de outras cidades, sem visão do país mas como grande sentido “bairrista”, vêm “chover no molhado”, propondo que Coimbra fique ainda mais afastado da rede viária e que esta redobre as suas incoerências. Basta! O silêncio de Coimbra não pode persistir. É urgente ter um sentido do país e da valia da nossa cidade.
Será que a Coimbra que não se tem feito ouvir nem respeitar no país vai ficar calada? Não, não pode ficar calada e, por isso, tem de se abrir uma agenda de reclamação com propostas veementes em três pontos principais, destinados a contrariar as tendências que têm despromovido Coimbra e reduzem o país a um ordenamento territorial pobre e desequilibrado:
1) a exigência de um projeto de mobilidade urbana, correspondente ao Metro Mondego, que sirva as zonas de maior proximidade até à Lousã e estruture e qualifique o transporte coletivo de passageiros dentro da cidade, tendo em conta os grandes equipamento que servem uma zona vastíssima, e de que o Hospital é o melhor exemplo;
2) a revalorização e requalificação das ligações rodoviárias e ferroviárias, com uma nova estação intermodal diga, que elimine as “chagas” existentes;
3) a conclusão da circular regional com a finalização da A23 e ligações às cidades já mencionada, centradas na suas valias urbanas e não em desenhos tecnocráticos que afastem Coimbra. Coimbra não pode ser solidária como opções de política intempestivas, como a que rejeita a conclusão da malha rodoviária essencial, quando é exatamente aqui que se criaram os grande “buracos”, os maiores desleixos e as principais incoerências.
O movimento Cidadão por Coimbra coloca esta agenda à consideração pública, propõe-a a todas as instituições da cidade – das autárquicas, às do ensino superior, às sindicais e empresariais, aos serviços públicos – e faz dela um assunto urgente, para que discutamos o lugar e o papel desta área urbana num país mais justo, que recuse a pequenez. Não pode voltar a acontecer que Coimbra não tenha uma voz ouvida e respeitada. Assim como não se pode pensar que, ao defender-se estes princípios, se tem apenas em mente um simples interesse local, quando, de facto, é com o país no seu conjunto que nos estamos a preocupar.
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