Coimbra
Covid-19: Apologia da democracia feita por José Reis em trabalho da Universidade de Coimbra
A apologia da democracia e a da legitimidade que ela confere é feita pelo ex-governante José Reis na apresentação, divulgada hoje, de um trabalho colectivo do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, intitulado “Palavras para lá da pandemia: cem lados da crise”.
Para o outrora secretário de Estado (XIV Governo) do Ensino Superior, que também faz a apologia de “instituições sólidas”, a maior parte dos problemas trazidos à tona pela pandemia da covid-19 é “fruto de construções institucionais, de deliberações políticas e de relações indesejavelmente desequilibradas”.
“As ciências sociais críticas, capazes de interpelarem e interpretarem o mundo, não ignoravam as tensões sobre as quais a vida colectiva tem assentado, as desigualdades geradas pelos desequilíbrios profundos das nossas sociedades, a geração de poderes cada vez mais assimétricos, a predação exercida sobre o ambiente, as sociabilidades, os recursos ou os processos que deviam ser sustentáveis”, assinala o antigo director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC).
Catedrático de Economia, além de antigo governante, José Reis foi autarca e presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.
“Criou-se instabilidade, produziu-se vulnerabilidades, exauriu-se aquilo que dá mais solidez à economia, à sociedade e à vida e recebemos de volta uma pandemia; é esta noção forte a ter de nos acompanhar quando não queremos um regresso a um ‘normal’ – que nunca ninguém definiu em proveito de todos, embora se trate da palavra mais elucidativa acerca da opacidade a pairar sobre o mundo que desabou com a pandemia e que não pode perdurar para pensarmos um futuro que está por construir”, opina o economista.
O coordenador do sobredito trabalho colectivo do CES da Universidade de Coimbra insurge-se contra “uma ilusão globalista, que ignora a vida para apenas promover interacções sem espessura”.
A par de José Reis, intervieram na revisão científica da obra Ana Cordeiro Santos, António Sousa Ribeiro, Carlos Fortuna, João Rodrigues, José Castro Caldas, Pedro Hespanha e Vítor Neves.
“A crise pandémica veio revelar de forma mais clara a necessidade de reverter o processo de globalização, já que esta foi um poderoso veículo de difusão da covid-19”, evidenciando “o preço que se paga por se depender de cadeias de produção ditas globais para bens cruciais ou por se permitir uma mobilidade insana de pessoas em busca de negócios ou de lazer”, adverte João Rodrigues, professor auxiliar da FEUC.
Defensor do fomento da produção de proximidade, o docente universitário diz que “o comércio livre [à escala planetária] é o proteccionismo dos mais fortes”.
A globalização, conclui João Rodrigues, deu origem a “uma ideologia – o globalismo – que a declara irreversível e que só alinha pelo diapasão das soluções na escala global, ou seja, na escala da impotência democrática”.
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