Economia

Primeiro-ministro avisa que Portugal tem de acertar os tiros com a “bazuca” de dinheiros europeus

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 30-07-2020

O primeiro-ministro afirma que Portugal dispõe de “uma bazuca” financeira para enfrentar a atual crise, mas avisa que não pode falhar os tiros, e coloca a hipótese de uma mulher suceder-lhe na liderança do PS.

António Costa com os restantes líderes europeus, nas negociações do plano de recuperação económica, em Bruxelas (UE)

Estas posições foram assumidas por António Costa numa extensa entrevista que concedeu à revista “Visão” e que foi hoje publicada.

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O primeiro-ministro aponta que, ao longo dos próximos anos, Portugal vai dispor de mais 50% de verbas da União Europeia do que teria num quadro financeiro normal e considera estar-se perante “um reforço da capacidade de resposta” à atual crise provocada pela pandemia da covid-19.

“Temos a bazuca. É preciso saber aproveitá-la bem, ter um bom plano de batalha e não falhar o tiro. Vamos ter, em média, daqui até 2029, ou seja, 6,7 mil milhões de euros para executar por ano. É mais do que duplicar o máximo que já tivemos até agora”, refere.

O primeiro-ministro salienta depois que a execução deste montante “vai exigir um enorme esforço por parte da administração pública, por parte dos agentes económicos e uma enorme responsabilidade”.

“Não podemos queixar-nos da falta de poder de fogo, só podemos queixar-nos se não formos capazes de definir um bom plano de batalha e se não acertarmos bem agora a nossa pontaria. A parte da Europa, a Europa fê-la. Agora cumpre-nos, a nós, aproveitar bem aquilo que a Europa disponibilizou”, avisa.

Questionado sobre os custos inerentes à execução do Plano de Recuperação 2020/2030 elaborado para o Governo pelo gestor António Costa Silva, o primeiro-ministro contrapõe que o seu executivo pediu a este professor universitário “uma visão estratégica” e um orçamento.

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“Essa visão estratégica tem de ser declinada em diferentes instrumentos de execução – e esses, sim, têm de ser devidamente orçamentados. O desafio de quem governa é precisamente pegar nessa visão estratégica e dizer como se vai transformar esta visão em ação”, sustenta.

Nesta entrevista, António Costa volta a rejeitar uma solução de “Bloco Central” PS/PSD para o país, insistindo na aproximação política às forças à esquerda dos socialistas, e desdramatiza a questão da sua sucessão a médio prazo no cargo de secretário-geral do PS.

No entanto, neste ponto, não aceitou circunscrever a dois nomes, Pedro Nuno Santos e Fernando Medina, o quadro de potenciais candidatos à liderança dos socialistas.

“Eu convivo muito bem com eventuais ambições ou com alguém que queira concorrer comigo à liderança. Não é nada que me tire o sono ou que me angustie. O PS tem, felizmente, muitas soluções nas novas gerações. Quem lhe diz que não pode ser uma mulher?”, questionou o próprio António Costa.

O atual líder socialista frisou depois que não tenciona designar sucessor nem intervir nessa escolha do novo secretário-geral do PS.

“No momento em que eu considerar que é altura de deixar a liderança do PS, procurarei não incomodar ninguém nessa transição. Se entender que devo continuar, bom, disputarei e aí os militantes decidirão”, diz.

Na entrevista, António Costa defende a revisão do Regimento da Assembleia da República aprovada na semana passada pelo PS e PSD, concordando por isso com o fim dos debates quinzenais com a presença do primeiro-ministro.

António Costa entende que os debates quinzenais com o primeiro-ministro favorecia a conflitualidade interpartidária e a degradação das relações pessoais, “porque estava desenhado para ser um duelo, e os duelos só têm uma regra simples: ou mata um ou mata outro”.

“Ao primeiro ainda se acha alguma graça, ao segundo mais ou menos e ao terceiro o caldo está entornado. E isso aconteceu com vários primeiros-ministros e com vários interlocutores parlamentares das oposições. E só não é assim quando depois a leitura que é feita é a de que o opositor é fraco, é fácil, não responde”, alega.

O primeiro-ministro defende o novo modelo aprovado, considerando que favorece o escrutínio do Governo, e vai mais longe nas críticas aos debates quinzenais.

“Aquele era um modelo de lógica confrontacional, que servia simplesmente para se produzir sound bites para telejornais, e isso não é forma de debater”, argumenta.

Questionado se o confronto e a oratória não fazem parte do jogo democrático, António Costa aceita que esses fenómenos se encontram sempre presentes na vida parlamentar.

“Mas eu, como é sabido, o que mais gosto de fazer na vida política é resolver problemas. Tenho mais gosto pelas funções executivas do que por funções de outra natureza, mas respeito quem tem alergia até à função executiva e gosta de dedicar a sua vida à retórica parlamentar”, responde.

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