Saúde
Investigação pioneira sobre demência frontotemporal desenvolvida em Coimbra
Investigadores da Universidade de Coimbra (UC) estão a desenvolver um estudo pioneiro sobre os mecanismos da demência frontotemporal – “a segunda mais comum das demências” –, anunciou hoje aquela instituição.
“Pela primeira vez, em Portugal”, uma equipa de 14 investigadores da UC, através do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Medicina, está a “estudar os mecanismos envolvidos” na demência frontotemporal, afirma a universidade, numa nota hoje distribuída.
A degenerescência lobar frontotemporal, também conhecida por demência frontotemporal, é uma “patologia com grandes implicações no comportamento” – que “afeta sobretudo o ‘centro de decisão’ do cérebro (os lobos frontotemporal)” – e, apesar de ser a segunda demência mais comum, a seguir à doença de Alzheimer, “é ainda praticamente desconhecida”.
Os primeiros resultados do estudo, que envolve 70 doentes seguidos na consulta de demências, coordenada pela neurologista Isabel Santana, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, revelaram “profundas alterações ao nível do complexo 1 da cadeia respiratória mitocondrial”, em comparação com “um grupo controlo constituído por voluntários saudáveis”.
Em 69 dos 70 doentes acompanhados foram verificadas “deficiências genéticas e bioenergéticas”, enquanto em 40 doentes foi observada uma “diminuição nos níveis de ATP circulantes”, que se “correlaciona com o decréscimo da atividade do complexo 1” da cadeia respiratória, refere Manuela Grazina, coordenadora do estudo e responsável pelo Laboratório de Bioquímica Genética da UC.
De forma simples, pode dizer-se que os investigadores “identificaram a ‘falha de energia’ que pode ajudar a esclarecer os mecanismos envolvidos na doença, ou seja, permite perceber onde é que o código está errado para, a partir daí, desenvolver formas de compensar ou reparar esse erro”.
A investigação, financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), pretende “ajudar no desenvolvimento de escalas neuropsicológicas de diagnóstico e análise de biomarcadores bigenómicos e bioquímicos, que permitam a deteção precoce da doença, e contribuir para novas abordagens terapêuticas que previnam e/ou travem a progressão” da demência frontotemporal, uma doença complexa e sobre a qual se desconhecem “os mecanismos exatos subjacentes à sua etiologia”, sublinha a investigadora.
Apesar de não haver estudos sobre a incidência da patologia em Portugal, estima-se que a demência frontotemporal representa 7% do conjunto das demências degenerativas na população com idades compreendidas entre os 45 anos e os 64 anos.
Este primeiro grande estudo de avaliação da interação bigenómica (genomas mitocondrial e nuclear) na demência frontotemporal conta com a colaboração do Baylor College of Medicine (EUA) e do Institute of Ageing and Health (Inglaterra).
Related Images:
PUBLICIDADE