Educação
Bastonário avisa que aumento de vagas em medicina vai baixar qualidade do ensino
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, considerou hoje que o aumento do número de vagas nas faculdades de medicina, autorizado para o próximo ano letivo, vai conduzir à diminuição da qualidade da formação.
À margem de uma visita ao Hospital de Braga, Miguel Guimarães afirmou que não há falta de médicos em Portugal e considerou “profundamente lamentável” que o Governo não tenha ouvido as escolas de medicina, as associações de estudantes e a própria Ordem antes de tomar a decisão de permitir o aumento de vagas.
“As nossas escolas médicas já ultrapassaram o limite de estudantes de medicina que podem formar”, referiu.
Aludiu, concretamente, ao caso da Faculdade de Medicina, no Porto, que tem anfiteatros com capacidade para 190 estudantes mas que no ano passos viu entrarem 330 estudantes.
“Nem sentados no chão cabem todos no anfiteatro”, sublinhou.
No ano anterior, os cursos de medicina ficaram excluídos das novas orientações para abertura e fecho de vagas, mantendo-se o mesmo ‘numerus clausus’, mas o despacho governamental para 2020-2021 autoriza as instituições a aumentarem o número de vagas até 15% e estabelece uma obrigação de assegurar, no mínimo, a manutenção dos mesmos lugares.
“As capacidades que nós temos em termos de ensino teórico e clínico levam a que seja muito difícil acomodar mais 15% de estudantes nas nossas escolas médicas e isso seguramente que irá levar a que exista diminuição da qualidade na formação dos médicos”, alertou o bastonário.
Miguel Guimarães sublinhou que Portugal é um dos países da OCDE “que mais médicos forma por mil habitantes”.
Adiantou que em Portugal há cerca de 55 mil médicos inscritos, mas só 28 ou 29 mil estão no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Os outros estão fora [do SNS]. Ou seja, há médicos, o que é preciso é contratá-los”, afirmou.
Por isso, o bastonário critica o aumento do número de vagas e considera “profundamente lamentável” e uma “falta de consideração enorme” que a decisão tenha sido tomada sem auscultação das escolas de medicina, das associações de estudantes e da Ordem.
“Ainda por cima, numa altura em que médicos deram um exemplo brilhante daquilo que é a liderança clínica e a sua qualidade”, disse ainda Miguel Guimarães, numa alusão ao combate à pandemia de covid-19.
Como exemplo, apontou os profissionais do Hospital de Braga e a sua “atividade notável” durante a pandemia, dando a todos a resposta “que tinham de dar”.
Durante o pico, o hospital chegou a ter 116 doentes internados e tratou 32 em unidades de cuidados intensivos.
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