Economia
Especialistas em mobilidade alertam para o impacto do teletrabalho nos transportes
Vários especialistas em mobilidade defenderam hoje a importância de uma reflexão no setor dos transportes e nos hábitos das pessoas, adquiridos com a pandemia, apontando o teletrabalho e mobilidade menos monitorizada para o futuro “ainda incerto”.
A webconferência organizada pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) sob o tema “COVID 19 – A mobilidade e os transportes” juntou durante duas horas e meia mais de 700 pessoas, incluindo os secretários de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, e das Infraestruturas, Jorge Delgado.
Depois da abertura, por parte do secretário de Estado da Mobilidade, o professor da Universidade de Coimbra Álvaro Seco explicou a importância de se promover “sistematicamente o ‘achatamento’ do perfil de procura” dos passageiros pelos transportes públicos, sublinhando que o “atual contexto de exceção criou oportunidades”.
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“Tem de haver um bom equilíbrio entre oferta e procura, ajustar a oferta sem penalizar fortemente os utentes”, frisou.
Já José Manuel Viegas, antigo professor do Instituto Superior Técnico, avançou que “a pandemia psicológica irá prolongar-se no tempo além da pandemia sanitária” que se vive atualmente, recomendando que sejam feitos algumas alterações nos transportes.
Tendo em conta que o teletrabalho ganhou expressão na atualidade, José Manuel Viegas salientou que este regime deveria ser adotado “sempre que possível” e para tal poder-se-ia tornar o passe intermodal “não com uma base mensal como agora existe, mas para um número de dias de uso, não necessariamente consecutivos”.
“No lado da oferta podem vir a existir muito mais bicicletas, de forma a evitar a fuga do transporte coletivo pesado para o automóvel individual, mas sim para o ligeiro, promovendo-se também a construção de quilómetros de pistas cicláveis seguras, aproveitando enquanto há poucos carros a circular”, disse.
O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Mineiro Alves, lembrou também que o confinamento levou ao “teletrabalho e ao comércio online, que vieram para ficar” e que o “instinto de autoproteção vai imperar enquanto não for erradicada a pandemia”.
Desta forma, Carlos Mineiro Alves avançou com a necessidade de “ser repensado o território e a proximidade residência/emprego”, que levarão à redução dos movimentos pendulares diários.
“É necessária a descarbonização dos transportes públicos, tendo em conta as alterações climáticas, apostando no hidrogeno e na eletricidade, ao mesmo tempo que se melhora a oferta no transporte pesado ferroviário como o metro e o comboio”, avançou.
De acordo com o bastonário, o tempo de confinamento veio demonstrar que muitas atividades podem ser feitas através das plataformas digitais, lembrando todos aqueles que estão em teletrabalho e a forma com hoje se juntaram oito especialistas para falar de um tema com uma grande plateia a assistir online.
Por seu turno, Jorge Pinho de Sousa, da Universidade do Porto, sublinhou a importância de se redesenhar uma nova cidade e os espaços urbanos.
“As alterações aos hábitos e à forma de viver vão manter-se em muitos aspetos, como o trabalho remoto, o ensino à distância, telemedicina ou o ‘e-commerce’”, disse, reconhecendo que poderá levar a uma redução do número de viagens e ao redesenho da cidade”.
O professor José Carlos Mota, da Universidade de Aveiro, reiterou que se vive um tempo em que há “oportunidade de repensar tudo”, podendo vir a ser feita uma aposta na mobilidade menos monitorizada, que levaria à retirada de pressão do transporte público.
José Carlos Mota deu exemplos do que se passa em outras cidades europeias atualmente, que reforçaram as ciclovias existentes e reduziram a velocidade permitida dentro das cidades e que, no caso das cidades norte-americanas de Manhattan e Seattle, há vias principais fechadas durante vários períodos devolvendo o espaço aos peões.
“Não faltam conhecimentos. Com o desconfinamento gradual é a altura certa para testar outras alternativas de mobilidade elétrica”, avançou.
Por seu lado, Maria de Lurdes Antunes, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), alertou para a segurança rodoviária não só no tempo atual, mas também no pós-pandemia, lembrando também a existência das chamadas “cidades inteligentes”, onde as pessoas fazem as suas vidas num raio de distância de 15 minutos.
O presidente da Carris, Tiago Farias, reconheceu o “enorme desafio” colocado à empresa, garantindo que os grandes desafios futuros têm a ver com uma preocupação com a confiança dos utentes, com a sustentabilidade financeira e o ajustamento do serviço em termos de procura e oferta.
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