Desporto
Crise económica pode ditar fim de metade das equipas do pelotão de Fórmula 1
A crise económica provocada pela pandemia de covid-19 pode vir a ditar o fim de cinco das dez equipas que atualmente competem no Campeonato do Mundo de Fórmula 1.
O alerta é deixado por Paulo Reis Mourão, docente e investigador da Universidade do Minho e que publicou o livro “The Economics of Motorsports: The Case of Formula One” – ‘A economia do desporto motorizado: o caso da Fórmula Um’, em entrevista à Agência Lusa.
O investigador, que se dedica à análise dos dados económicos da disciplina rainha do desporto automóvel, aponta para a possibilidade de falência de “claramente metade [das equipas do pelotão], no mínimo”. “E todas terão uma redução de custos”, alerta ainda.
Por outro lado, a dimensão desses cortes (está a ser negociado um teto nos 150 milhões de euros ou menos) pode interferir, também, com a qualidade do espetáculo e afastar adeptos, contribuindo para aumentar ainda mais o fosso.
“Para lá da competência dos pilotos, a F1 vive com o avanço tecnológico – basta ver a repartição dos prémios monetários. Este avanço tecnológico está, neste momento, disponível para a maioria dos construtores, ainda que cada um com os recursos limitados (e com esta crise necessariamente muito mais limitados)”, começou por explicar Paulo Reis Mourão.
O docente lembra que, em época de crise, “os custos milionários das modalidades têm um grande travão – quando não redução real – e os custos das ‘middle ranked teams’ [equipas do meio da tabela] trazem a ameaça de falência para muitas delas”.
Por outro lado, “provas de desporto motorizado internacionais vivem muito com as facilidades de turismo, um setor profundamente debilitado hoje em dia, pelo que reorganizações das competições internacionais até nessa dimensão vão ter que se preocupar (para lá das dificuldades de muitos países terem recursos cómodos para as taxas de cada circuito)”, comenta.
Por isso, acredita que o “cenário mais provável – e que está aparentemente a ser desenhado – coloca várias equações em jogo: adiamento das provas por dois anos, ‘patronização’ da modalidade (desenvolvimento de um campeonato mundial com poucos ‘Big Ones’, ou seja, os principais construtores, como Ferrari, Mercedes ou Red Bull, mas com mais carros inscritos por equipa e num número limitado de circuitos, revisitados várias vezes na mesma época) e desenvolvimento de campeonatos juniores regionais (com equipas B ou ‘patronizadas’) bem como renegociação dos direitos de transmissão ‘on live’ por televisão e serviços de ‘streaming’”.
Esta seria uma forma de evitar corridas com poucos carros e muita pista vazia nas transmissões televisivas.
“Os regulamentos da FIA referem que um campeonato para ser válido necessita de ter oito corridas com 12 carros a terminar, no mínimo”, lembra o investigador.
Na sua opinião, “a atratividade é já um conceito mais complexo, dependendo de espetador para espetador”, mas que, no geral, “vai depender da probabilidade de incerteza perante os pódios (de pilotos e de construtores)”.
“E isso depende, desde logo, da concentração de pontos e de vitórias no primeiro terço do campeonato. Obviamente, um campeonato mais curto pode até ser mais emotivo se as ‘Big Ones’ não açambarcarem os pontos e as vitórias nas primeiras corridas”, diz ainda.
De qualquer modo, “em termos estratégicos – imagine-se uma prova futebolística disputada num único jogo como uma Supertaça – as ‘Big Ones’ vão estar muito mais atentas e precisas em poucas provas, onde um pequeno erro tem um custo muito maior, do que em campeonatos longos”, conclui.
Nesta altura são já cinco as equipas do Mundial a aderirem ao ‘lay-off’ dos seus funcionários e a procederem a corte nos vencimentos dos pilotos. A decisão foi tomada por McLaren, Williams, Racing Point, Haas e Renault.
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