Coimbra
Ministro do Mar navegou na Figueira da Foz para conhecer questões da pesca local
O ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, navegou hoje ao largo da Figueira da Foz numa embarcação de pesca para conhecer de perto os problemas que afetam a comunidade piscatória local, disse fonte do setor.
Em declarações à agência Lusa no final da visita “informal” à Figueira da Foz, Ricardo Serrão dos Santos disse que o plano inicial passava por acompanhar os pescadores na pesca ao biqueirão – entretanto suspensa -, mas o passeio marítimo acabou por se realizar ao largo desta cidade do litoral do distrito de Coimbra.
“Hoje estava um dia bom, conseguimos sair ao mar, não fomos à pesca, mas deu para conhecer a realidade. Estivemos a ver as sondas e os sonares de bordo, a maneira como detetam os cardumes e fomos trocando pontos de vista sobre a pesca e os problemas que aqui existem na saída da barra, questões do assoreamento e relacionadas com dragagens. O setor da pesca é muito bem informado, gostei muito da visita”, afirmou o ministro do Mar.
“A agitação do mar aqui também torna as dragagens difíceis. E é um problema que não tem só a ver com a possibilidade de se sair ou não [a barra] para a pesca, tem a ver com a segurança das próprias tripulações”, adiantou.
Na Figueira da Foz, onde nos últimos anos aconteceram vários acidentes e naufrágios, alguns deles com vítimas mortais, o problema que se coloca de cada vez que a agitação marítima aumenta está relacionada com as entradas e saídas da barra: estas fazem-se por sudoeste desde as obras de extensão do molhe norte, há quase uma década, enquanto a direção das ondas é predominante de noroeste, embatendo de viés (na diagonal) nas embarcações de pesca.
Ricardo Serrão Santos frisou que as “principais queixas” do setor atualmente “têm a ver com o acesso ao recurso [sardinha] na pesca do cerco” e também à “complexidade” da interação no mar entre duas espécies, o biqueirão e a sardinha.
O governante explicou que existe, no momento, uma quota de pesca de biqueirão “e os pescadores estão a sentir dificuldades, porque a sardinha está misturada com o biqueirão e ainda por cima são juvenis e recrutas de sardinha”.
“E o próprio setor decidiu que não vai ao biqueirão, porque não quer prejudicar o desenvolvimento da sardinha”, revelou.
O ministro do Mar, ele próprio cientista na área oceanográfica e que durante oito anos foi diretor do departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, reconheceu que os pescadores têm “expectativas grandes” de que a quota de pesca de sardinha possa aumentar este ano – depois de se ter situado em redor das nove mil toneladas, para Portugal e Espanha, em 2019, já com um aumento de 25% em meados do ano – e que está a decorrer um “cruzeiro de acústica da sardinha”, estando outro previsto para março, para avaliar a quantidade existente daquela biomassa nas zonas pesqueiras portuguesa e espanhola.
“Vamos ver se conseguimos melhorar um pouco a quota ainda este ano, mas a variação não pode ser muita, porque os próprios modelos científicos utilizam perspetivas de precaução que não permitem grandes alterações de um ano para o outro, não é por causa de um ano de aparente recrutamento [aumento da sardinha disponível] que significa que ele seja sustentável”, avisou o ministro.
Para Ricardo Serrão Santos, a redução dos stocks de sardinha não esteve só ligada à pesca daquele recurso, mas “também com questões ambientais”.
“Mas estamos atentos à melhoria, porque também significa que a gestão para recuperação aparentemente funcionou e a sardinha também está valorizada. Aparentemente, estamos a vencer o processo de recuperação do stock, mas há incertezas grandes e algumas são ambientais”, reafirmou.
Já António Lé, o armador de pesca do cerco que acompanhou o ministro na sua traineira “Atleta”, justificou a suspensão “autónoma” da pesca do biqueirão, dado a sardinha ser atualmente “muito abundante”.
“Em consciência, parámos as embarcações, com todos os prejuízos e sacrifícios que isso acarreta, para que se possa, de uma vez por todas, eliminar o tabu da [falta de] sardinha, que abunda e ultrapassa largamente aquilo que é o limite sustentável tão apregoado por Bruxelas”, argumentou o armador, dizendo esperar que os cruzeiros “confirmem” essa abundância.
António Lé enalteceu a “sensibilidade” de Ricardo Serrão Santos, “que fez questão de sair à barra e viu que a barra [da Figueira da Foz] é uma coisa inacreditável [de falta de segurança]”.
A deslocação incluiu uma visita ao porto de pesca, alegando António Lé que a entidade gestora [Docapesca, que depende do ministério do Mar] “prometeu que ia fazer a reposição das condições normais de funcionamento” afetadas desde a tempestade Leslie, em outubro de 2018, “para que se volte a ter segurança no porto, com aumento das descargas e aumento do trabalho na Figueira da Foz”.
“A situação tem vindo a melhorar, mas devagar e devagarinho”, argumentou o armador.
Carlos Monteiro, presidente da autarquia da Figueira da Foz, destacou a “relevância” da deslocação do ministro do Mar ao município para “conhecer a realidade” local, apontando situações “que preocupam todos”, como a entrada da barra e o aprofundamento previsto do canal de navegação.
“E ter os ministros a conhecerem os problemas mais facilmente se encontra uma solução”, defendeu o autarca.
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