O deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, sustentou hoje que o Programa do Governo só pode ser cumprido com aumento de impostos e desafiou o primeiro-ministro a afastar essa opção até ao fim da legislatura.
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“Está a querer quadrar o círculo. Quem tem saudades de ser comentador é o senhor primeiro-ministro, quer voltar à ‘Quadratura do Círculo’, porque isto só se quadra de uma de duas maneiras: ou incumpre o programa que hoje aqui apresenta, ou vai aumentar impostos”, declarou João Cotrim Figueiredo.
Numa intervenção durante o debate do Programa do XXII Governo Constitucional, na Assembleia da República, o deputado da Iniciativa Liberal dirigiu-se ao primeiro-ministro e perguntou-lhe: “Compromete-se aqui que neste Orçamento que vai entrar em breve e no resto da legislatura não vai proceder ao aumento de impostos?”.
“E não se refugie, por favor, nos impostos diretos versus os indiretos, que foi aquilo que andou a fazer na última legislatura”, acrescentou.
João Cotrim Figueiredo insistiu que o executivo “ou incumpre o programa, ou aumenta impostos”, tendo em conta os custos de medidas como “um aumento de 3% da massa salarial” da Administração Pública, com “admissões de funcionários” e “progressões de carreiras” ao mesmo tempo.
“Isto tudo junto não vai custar menos de mil milhões de euros – numa estimativa minha, porque, mais uma vez, este programa não tem contas”, disse.
Por outro lado, questionou como será possível “aumentar enormemente o investimento público”, fazer “um significativo aumento da despesa pública corrente” e “manter o objetivo de chegar com a dívida pública a 100% no fim da legislatura”, num contexto internacional “que não vai ser certamente melhor” do que o dos últimos quatro anos, que qualificou de “fantástico”.
O deputado da Iniciativa Liberal – que se estreou em legislativas conseguindo um eleito pelo círculo de Lisboa – desafiou também o primeiro-ministro a apoiar a proposta de alteração ao Regimento da Assembleia da República que entregou na terça-feira para que os deputados únicos representantes de partidos, como é o seu caso, possam intervir mais no parlamento.
João Cotrim Figueiredo aproveitou para responder a António Costa, que na parte inicial deste debate o criticou por não apresentar nessa ocasião “uma única ideia diferente” e se demarcou da sua posição ideológica sobre os motivos da pobreza em Portugal, fazendo alusão ao voto censitário, condicionado à situação económica dos eleitores.
“Fiquei sensibilizado pelo facto de ter escolhido a Iniciativa Liberal para seu principal adversário ideológico na sessão desta manhã. Fiquei sensibilizado, sobretudo, porque até sentiu necessidade de inventar o argumento do voto censitário, que eu não usei, que o senhor primeiro-ministro sabe que eu não usei, que o senhor primeiro-ministro sabe que ninguém defende”, afirmou o deputado da Iniciativa Liberal.
Em seguida, observou: “Quem tem necessidade de inventar um argumento é porque não tem mais nenhum, ou então tem muito receio da oposição que sabe que a Iniciativa Liberal lhe fará”.
Sobre a “falta de alternativas”, Cotrim Figueiredo considerou que António Costa “está há tempo de mais no poder, no mais alto poder, já não se lembra do que é não ter tempo para explicar as medidas”.
A este propósito, acrescentou: “Espero que, na qualidade de primeiro-ministro, mas também de secretário-geral do PS, use a sua influência para que a alteração ao Regimento que a Iniciativa Liberal propôs ontem [terça-feira] nesta casa seja aprovada, para que todos os partidos pequenos tenham tempo para propor as alternativas e poder discuti-las consigo”.