Justiça

Vaticano investiga negócio de 180 Milhões entre Cardeal e Mosquito

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 18-10-2019

O Vaticano esteve a investigar um investimento de 200 milhões de dólares (180 ME) considerado pouco transparente, que envolveu o empresário angolano António Mosquito, informou hoje o jornal Financial Times.

Pope Francis gives his thumb up as he leaves at the end of his weekly general audience in St. Peter’s square at the Vatican, Wednesday, Sept. 4, 2013. (AP Photo/Riccardo De Luca)

A Secretaria de Estado do Vaticano recorreu a consultores externos, em 2012, para realizar um empréstimo de 200 milhões de dólares, com fundos que tinha em contas bancárias suíças, à Falcon Oil, uma empresa petrolífera angolana, controlada pelo conhecido empresário de Angola António Mosquito, também com negócios em Portugal.

Porém, depois de ter decidido não conceder o empréstimo à Falcon Oil, a Secretaria do Vaticano decidiu investir a verba, juntamente com um fundo italiano com sede em Londres, na compra de uma participação minoritária num imóvel que aquela entidade financeira já tinha no exclusivo bairro londrino de Chelsea.

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O negócio imobiliário de Londres foi o objeto da investigação judicial da Santa Sé, no decurso da qual a polícia do Vaticano apreendeu documentos e computadores dos escritórios da Secretaria de Estado.

O Vaticano recusou-se a comentar o conteúdo da investigação, limitando-se a informar que foram investigadas transações financeiras passadas.

O empresário angolano António Mosquito, que foi acionista de referência da Global Média, proprietária entre outros títulos do Diáro de Notícias, Jornal de Notícias e da rádio TSF, e possuiu a maioria do capital da construtora Soares da Costa, aproximou-se diretamente do Vaticano para propor um investimento de 200 milhões de dólares (180 ME), disse uma autoridade sénior da Santa Sé.

António Mosquito conhecia o cardeal Giovanni Angelo Becciu, desde que este fora embaixador do Vaticano em Angola, entre 2001 e 2009.

A Falcon Oil e o empresário Mosquito não responderam ao pedido do FT de um comentário sobre esta investigação, escreve o jornal.

Até 2018, o cardeal Becciu era o segundo mais alto funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, reportando diretamente a Bento XVI e, mais tarde, ao papa Francisco.

A realização do investimento imobiliário de Londres foi autorizada por aquele cardeal, disseram fontes diretamente envolvidas na operação.

“Mosquito entrou em contacto com a Secretaria de Estado, como qualquer outra pessoa poderia facilmente ter feito”, disse Alberto Perlasca, ex-alto funcionário do gabinete da Administração da Secretaria do Vaticano e atual presidente da Transparência Internacional.

“O facto de nada ter sido feito mostra que a Secretaria de Estado foi escrupulosa no exame do investimento, além de qualquer consideração de pessoa ou de amizade”, acrescentou.

Perlasca não respondeu diretamente a perguntas sobre por que um empréstimo de 200 milhões de dólares para uma plataforma petrolífera angolana foi considerado um possível investimento adequado.

Em 2012, a Falcon Oil detinha uma participação de 5% num bloco de exploração offshore angolana 15/06, cujos maiores acionistas eram e ainda são a petrolífera italiana Eni e a sua congénere estatal angolana Sonangol.

A Falcon Oil estava a tentar um empréstimo de 200 milhões de dólares com o objetivo de financiar a sua contribuição para a construção de uma plataforma offshore que estava para arrancar naquele bloco.

O cardeal Becciu recusou-se a responder diretamente às perguntas do Financial Times.

Por seu lado, o WRM, um fundo de investimento de Raffaele Mincione que detinha a maioria do edifício londrino, admitiu que fez a análise do investimento em Angola.

“O Credit Suisse, em nome da Santa Sé, solicitou ao WRM que realizasse a devida diligência sobre o projeto de petróleo com o objetivo de investir 200 milhões de dólares”, afirmou.

“A nossa análise foi extensa e levou-nos a recomendar ao Credit Suisse e à Santa Sé que não realizasse esse investimento”.

O Credit Suisse, banco que também está a ser investigado por suspeitas de envolvimento de alguns dos seus responsáveis no processo designado de dívidas ocultas em Moçambique, também se recusou a fazer comentários sobre a investigação do Vaticano.

O Credit Suisse atuava como banco privado da Secretaria de Estado do Vaticano e assessorava os seus investimentos.

O WRM adiantou ainda que não teve conhecimento direto da investigação do Vaticano sobre o investimento da Secretaria na sua propriedade em Londres e disse estar confiante de que não cometeu nenhum erro.

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