Portugal continua hoje em crise energética devido à greve dos motoristas de matérias perigosas e de mercadorias, num dia feriado em que chegou a haver a expectativa de uma reunião entre grevistas e patronato.
O porta-voz do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), Pedro Pardal Henriques, desafiou a Antram para uma reunião às 15:00 de hoje, mas a associação que reúne as empresas de transportes recusou, alegando que não negoceia enquanto durar a greve, convocada por tempo indeterminado.
“Não podemos, infelizmente, reunir com a espada na cabeça, não podemos negociar dessa forma (…), negociamos de uma forma franca e presencial (…), mas não sob ameaça de greve”, foi a resposta de Pedro Polónio, um dos vice-presidentes da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram).
Pedro Polónio falava na quarta-feira à noite, à saída do Ministério das Infraestruturas e da Habitação, onde a Antram assinou um acordo relativo ao contrato coletivo de trabalho com a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), afeta à CGTP, elogiado pelo primeiro-ministro, António Costa.
“Saúdo vivamente o acordo alcançado entre a Fectrans e a Antram. Neste caso imperou o bom senso e o diálogo”, escreveu António Costa no Twitter, acrescentando esperar que “seja um exemplo seguido por outros”, numa referência ao SNMMP e ao Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), que também convocou a greve iniciada na segunda-feira.
O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, também disse que “o tempo da greve acabou” e que as partes se devem “sentar e negociar”, garantindo ser desejo do Governo que a paralisação “termine o mais depressa possível”.
Sem diálogo à vista, apesar destes apelos e de Pardal Henriques insistir no desafio à Antram para que se reúnam neste feriado católico da assunção de Nossa Senhora, os portugueses vão viver o quarto dia consecutivo de venda racionada de combustível nos postos que o tiverem disponível.
Para fazer face à greve, que afeta sobretudo a distribuição de combustível, o Governo fixou serviços mínimos entre 50% e 100%, mas logo no primeiro dia da paralisação decretou uma requisição civil parcial, até 21 de agosto, alegando incumprimento do estabelecido, sobretudo no Algarve e aeroportos.
Muitos dos camiões-cisterna passaram então a ser conduzidos por efetivos das Forças Armadas e de segurança nas zonas em que o Governo considerou que não estavam a ser cumpridos os serviços mínimos.
Em comunicado divulgado ao fim da tarde de quarta-feira, o Ministério do Ambiente e da Transição Energética anunciou não ser necessário, para já, alargar os termos da requisição civil.
O ministério de João Pedro Matos Fernandes adiantou que os “únicos casos de incumprimento dos serviços mínimos” se prendiam, na altura, com o transporte de combustível para aviões para os aeroportos de Lisboa e de Faro, que levaram à mobilização de mais de duas dezenas de equipas das Forças Armadas e de segurança.
A requisição civil dos motoristas em greve visa assegurar o abastecimento da Rede de Emergência de Postos de Abastecimento (REPA), aeroportos, postos servidos pela refinaria de Sines e unidades autónomas de gás natural.
Portugal está, desde sábado (10 de agosto) e até às 23:59 de 21 de agosto, em situação de crise energética, decretada pelo Governo devido a esta greve, o que levou à constituição da REPA, com 54 postos prioritários e 320 de acesso público.
Enquanto durar a greve, os veículos ligeiros só podem abastecer no máximo 25 litros de combustível em postos que não pertencem à REPA, e 15 litros nos postos da rede de emergência que não sejam exclusivos a transporte prioritário.
A greve foi convocada para reivindicar junto da Antram o cumprimento do acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.