A associação patronal Antram rejeitou hoje ter subornado motoristas de matérias perigosas para furarem a greve, tendo o porta-voz da associação acusado o sindicato nacional dos motoristas de mentir descaradamente.
“Este sindicado [Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas] não respeita ninguém, não respeita o povo português e mente descaradamente quando acusa, sem qualquer respeito ou prova, empresas de suborno”, afirmou à Lusa o porta-voz da Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários (Antram), André Matias.
O advogado e porta-voz do sindicato nacional dos motoristas, Pardal Henriques, disse hoje de manhã que a Antram subornou os primeiros motoristas que saíram de Aveiras de Cima, Lisboa, para iniciarem funções no primeiro dia de greve.
“Os primeiros que saíram foram pessoas subornadas”, disse Pardal Henriques em Aveiras de Cima, Azambuja, Lisboa, onde estão reunidos vários motoristas para cumprir a greve que teve início hoje à meia-noite e de onde saíram os primeiros cinco camiões-cisterna com matérias perigosas, cerca das 06:30.
“Mais uma vez, a Antram não está a cumprir o que está combinado. Estão a subornar pessoas para quebrar os serviços mínimos”, afirmou Pardal Henriques aos jornalistas.
“Este representante [Pardal Henriques] tem uma agenda pessoal e tem de sair imediatamente deste conflito porque nunca será possível chegar acordo com quem procura o conflito”, referiu André Matias.
Segundo este representante da associação patronal, o sindicato “alimenta-se e vive do conflito”, única situação que considera justificar uma greve em 2019 “relativamente a reivindicações para 2021 e 2022”.
Sublinhando que a Antram está “refém dos sindicatos”, André Matias adiantou que “não pode ser exigido a quem assinou um acordo a 17 de maio, e que agora o vê ser rasgado quando o mesmo previa negociação em paz social até 31 de dezembro, que aceite esta espada na cabeça”.
“Aceitar 2.000 euros de salário/mês representaria o fecho de várias empresas nuns casos e despedimentos coletivos noutros”, alertou, sublinhando que “o setor está no seu limite”.
A Antram “não aceita nem aceitará qualquer negociação que passe por implicar despedimentos coletivos em massa e encerramentos de centros operacionais que é o que esta proposta significa”, afirmou o porta-voz da associação, defendendo que o aumento pedido seria “o maior da história”.
Os motoristas cumprem hoje o primeiro dia de uma greve marcada por tempo indeterminado e com o objetivo de reivindicar junto da associação patronal Antram o cumprimento do acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.
A greve foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), tendo-se também associado à paralisação o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN).
O Governo decretou serviços mínimos entre 50% e 100% e declarou crise energética, que implica “medidas excecionais” para minimizar os efeitos da paralisação e garantir o abastecimento de serviços essenciais como forças de segurança e emergência médica.
Neste âmbito, o primeiro-ministro, António Costa, desloca-se hoje pelas 09:30 à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e assiste ao briefing operacional para avaliar o desenrolar dos acontecimentos.
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