Coimbra
Há mais obesos que famintos!
O sistema alimentar está em debate desde ontem no FISAS, encontro que tem lugar em Idanha-a-Nova. Até domingo, estão representados 15 países, provenientes de 4 continentes com uma preocupação comum: promover uma transição para sistemas alimentares sustentáveis, de maneira que nos permita cumprir os ODS e a chegar a um futuro sustentável.
Presente na sessão inaugural do FISAS, o Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural de Portugal, Luís Capoulas Santos, sublinhou que “Portugal tem assumido claras opções estratégicas para a produção de uma alimentação saudável e segurança alimentar. Do Plano Nacional Agrícola, de que são exemplo o Estatuto de Pequena Agricultura Familiar, o Programa de Regadios Tradicionais e a Reforma da Floresta, 30 a 35% são medidas relacionadas com o clima e a questão energética”.
Capoulas Santos terminou a sua intervenção com a atribuição da Medalha de Honra da Agricultura de Portugal ao Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, que encerra o seu segundo mandato à frente da organização este mês.
Num discurso emociado e muito aplaudido, José Graziano da Silva, Diretor-Geral da FAO, defendeu a criação de políticas públicas adequadas para a promoção da agricultura sustentável, da agroecologia e do acesso à alimentos saudáveis por toda a população. Como exemplos, citou a política que promove as compras públicas de alimentos provenientes da agricultura familiar, iniciada no Brasil e já implementada em dezenas de países; a rotulagem clara dos alimentos, como tem sido feito no Chile; e a taxação de alimentos não saudáveis uma vez que, a longo prazo, estes acabam por onerar os sistemas públicos de saúde.
“Não mudaremos os sistemas alimentares com tecnologia. No lugar disso, precisamos fazer mudanças nas leis e na área da investigação”, afirmou o Diretor-Geral, no mesmo dia em que a FAO anunciou que apoiará um programa de cooperação para a criação do Centro de Competências para a Agricultura Sustentável na CPLP, a ser sediado em São Tomé e Príncipe. Segundo José Graziano da Silva, esta iniciativa é uma forma de “abrir uma janela na catedral da Revolução Verde, para plantar a ideia de que um modelo novo e mais sustentável e responsável de produção e consumo é possível. A Revolução Verde foi capaz de prevenir a fome na década de 1970, mas atingiu seus limites e é hora de implementar diferentes modelos para combater a crescente fome e a obesidade que o mundo sofre”, concluiu.
Para Armindo Jacinto, Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, será nas comunidades rurais que se encontrará resposta às alterações climáticas. “É essencial alterar a forma como produzimos os alimentos. Novos comportamentos e novas atitudes são o caminho para o futuro. Ignorar o sinais do planeta é por em causa o futuro da humanidade”. Para o conseguir, o Presidente promete, até ao próximo domingo, anunciar 50 compromissos a implementar na região.
Na sessão inaugural do FISAS estiveram também Ministros da Agricultura e representantes de Governo da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, bem como representantes do Mecanismo da Sociedade Civil do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP e da INNER – Rede Internacional das Bio-Regiões.
Até ao dia 21 de julho, inúmeros produtores de Portugal, Espanha, França, Brasil, São Tomé e Príncipe, Angola e Cabo Verde irão partilhar boas práticas de desenvolvimento rural. As conclusões dos debates ficarão registadas na “Declaração de Idanha-a-Nova para a Promoção de Sistemas Alimentares Sustentáveis”, um acordo de referência para a ação governativa e programas que se destinem a promover a transição para sistemas alimentares mais sustentáveis em Portugal e noutros países da CPLP.
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