Universidade

Achados do Calcolítico na Universidade de Aveiro à espera de mais escavações

Notícias de Coimbra | 11 anos atrás em 18-12-2013

O arqueólogo Paulo Morgado defende que qualquer intervenção que se venha a fazer na Agra do Crastro, na Universidade de Aveiro, deve ser antecedida de reconhecimento arqueológico, face à importância dos achados ali encontrados.

Duas escavações, em 2003 e 2005, que antecederam a construção das residências universitárias, puseram a descoberto vestígios do que foi um núcleo de ocupação humana do Calcolítico (entre quatro e cinco mil anos), alguns dos quais a Universidade de Aveiro expõe agora, no âmbito do seu 40.º aniversário.

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“É o registo de ocupação humana mais antigo que existe na zona. A comunidade arqueológica dá uma grande importância a este sítio, por ser o mais litoral até agora conhecido. Estava sobranceiro ao mar, dada a evolução geomorfológica de toda a zona lagunar”, explica.

O arqueólogo afirma estar convencido que muita área da Agra do Crasto, hoje de expansão do ‘campus’ universitário, ainda não foi afetada, pelo que haveria todo o interesse em continuar uma campanha de escavação, preservando algumas estruturas musealizadas, o que teria interesse pedagógico e valorizava o próprio campus.

Alguns dos materiais exumados nas duas fases das escavações, muitos deles inéditos e que ainda nem sequer foram estudados, podem ser vistos na exposição “Museu da UA – uma coleção em crescimento”, patente na sala de exposições temporárias “Hélène Beavoir”, da Biblioteca da Universidade.

Morgado, que participou nas escavações de 2003, descreve a descoberta de um assentamento arqueológico do período calcolítico, com estruturas e materiais que incluem “barro de cabana”, usado para calafetar as habitações feitas de caniço.

“Temos expostos alguns bloquinhos de argila com os negativos do próprio caniço”, descreve, explicando que naquele cabeço junto ao mar houve um aglomerado populacional cuja dimensão está ainda por determinar, rodeado por um fosso defensivo, que delimitava a área habitacional.

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“Era um fosso grande, de que escavamos um segmento, e a prospeção geofísica deu umas anomalias concêntricas que seriam de buracos de poste, que correspondiam a estruturas de madeira para sustentar internamente as casas. Estamos a falar de uma coisa enorme: possivelmente todo aquele cabeço da área do Crasto seria um assentamento humano no período calcolítico”, relata.

Do espólio exumado, destaca-se uma panela “com quase um metro de diâmetro, de que não há nenhuma semelhante em Portugal, mas somente foi encontrada uma no sul de Espanha”, o que, para o arqueólogo, significa que “já haveria ligação e conhecimento que era trazido de fora”.

De outras paragens viria também sílex para fazer no local setas e outros instrumentos, que podem ser vistos na exposição: “o sílex não existe na zona e os veios mais próximos são em Portunhos e Ançã”, no concelho de Cantanhede.

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