Médicos
Burnout e violência contra médicos levam Ordem a criar gabinete de apoio
A Ordem dos Médicos decidiu criar o Gabinete Nacional de Apoio ao Médico para ajudar os profissionais em situações de exaustão e vítimas de violência ou agressão, uma forma de tentar responder aos “dados inquietantes” sobre ‘burnout’ na classe.
Cerca de 66% dos médicos estão num nível de exaustão emocional e 30% referem uma acentuada diminuição da realização profissional, segundo dados de um estudo realizado em 2016 e que vai ser publicado pela primeira vez esta semana na Acta Médica Portuguesa, depois de ter sido atualizado.
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Os números mostram ainda que quase 40% dos mais de nove mil clínicos inquiridos demonstram níveis elevados de despersonalização, que se caracteriza por atitudes de descrença ou indiferença e que está fortemente associado à síndrome de ‘burnout’.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, diz que o apoio aos médicos vítimas de ‘burnout’ ou de agressão é “absolutamente necessário”, adiantando que já tinha feito formalmente a proposta ao Ministério da Saúde.
“Até agora, do que é do meu conhecimento, o Ministério da Saúde não fez rigorosamente nada. Está-se nas tintas para o que está a acontecer aos seus profissionais de saúde, é aquilo que submerge das atitudes que os responsáveis políticos vão tomando”, lamentou Miguel Guimarães, em declarações à agência Lusa.
Para dar apoio aos profissionais, a Ordem decidiu criar um Gabinete de Apoio ao Médico, que deve definir estratégias de prevenção, bem como apoio prático e concreto.
O bastonário adianta que a Ordem vai procurar a colaboração de outras instituições, sendo o Ministério da Saúde a primeira que será convidada. O responsável acrescenta que poderá ser pedida a colaboração a outras ordens profissionais, como a dos Psicólogos, e a unidades de saúde, públicas ou privadas, interessadas em ajudar.
O gabinete será coordenado pelos médicos Nídia Zózimo, João Redondo e Dalila Veiga e depois terá de ser criada uma via de acesso direto e protegida para os médicos que necessitem de ajuda.
Miguel Guimarães recorda que o estudo sobre o ‘burnout’ na classe médica era anonimizado, não se sabendo por isso quem pode precisar de apoio.
A Ordem irá depois anunciar por email aos clínicos de que forma podem aceder ao gabinete. Numa fase inicial, os pedidos de ajuda podem ser feitos diretamente ao bastonário, que remeterá as situações ao novo gabinete.
Além das situações de cansaço extremo – seja físico, mental ou psicossocial -, o Gabinete vai prestar também apoio a casos de violência ou de agressão.
O bastonário recorda que a violência contra profissionais de saúde tem também vindo a crescer.
Mais de 950 casos de incidentes de violência contra profissionais de saúde foram registados só no ano passado, ficando 2018 como aquele em que mais episódios foram notificados. Os dados da Direção-geral da Saúde mostram que, do total dos 4.300 casos acumulados desde 2007, a maioria respeita a assédio moral, mas 17% são mesmo casos de violência verbal e 12% são situações de violência física.
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