Coimbra
Reitor de Coimbra afirma que Crise Académica de 1969 deu início ao 25 de Abril
O reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, disse hoje não restarem dúvidas de que a crise académica de 1969, cujo 50 anos foram celebrados numa sessão evocativa, deu início ao 25 de Abril.
“Que não restem dúvidas: foi aqui, em Coimbra, que se deu início à revolução de Abril”, afirmou Amílcar Falcão, lembrando o exemplo dos dirigentes estudantis que há meio século se destacaram na luta pela liberdade, como o então presidente da Associação Académica (AAC), Alberto Martins, que “pediu a palavra” na inauguração do Edifício das Matemáticas, perante os dignitários do Estado Novo, mas não foi autorizado a falar na presença destes, que acabariam por abandonar a sala.
Hoje, momentos antes da intervenção do reitor, no mesmo auditório do piso térreo do edifício (hoje sala 17 de Abril, assim batizada na sequência daquele episódio que marcou o início da crise académica de 1969), o então presidente da Assembleia Magna, Décio de Sousa, levantou-se, na assistência, e, aparentemente de surpresa, pediu também ele a palavra na sessão, replicando a “ousadia” de Alberto Martins mas, desta vez, com direito a intervir.
Décio de Sousa lembrou a assembleia que decidiu a greve aos exames há meio século, com uma participação recorde “de mais de 50%” dos cerca de nove mil estudantes inscritos, na altura, da Universidade de Coimbra, argumentando que apesar de ter havido 190 votos contra e 60 abstenções não se registou o “mínimo incidente” entre a esmagadora maioria que aprovou a paralisação e os poucos que se manifestaram contra.
“Foi uma verdadeira lição de civismo e espírito democrático”, assinalou o médico e antigo dirigente estudantil.
Aplaudido de pé pela assistência que enchia a sala 17 de Abril, Alberto Martins lembrou a “coragem” dos dirigentes que o acompanhavam na direção-geral da AAC em 1969, “homens e mulheres que com honra e coragem estiveram nos seus postos”.
O antigo presidente da AAC lembrou três antigos colegas, já falecidos, que participaram na luta académica – Fernanda Bernarda, Osvaldo de Castro e José Barros Moura -, lembrando que naquele dia 17 de abril, quando tinha 23 anos e frequentava o curso de Direito, “não havia uma voz que se levantou a pedir a palavra”.
“Era uma voz pela Academia, pedia a palavra por mil estudantes”, ilustrou, lembrando os acontecimentos que sucederam ao episódio, com mais de uma centena de estudantes presos, cargas policiais, incorporações militares “por castigo” ou o encerramento da AAC, acontecimentos que viriam a culminar na demissão do reitor da UC e do ministro da Educação.
“Só a compreensão do passado nos permite e dá a capacidade de sonhar e construir o futuro”, enfatizou Alberto Martins.
Na sessão, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, disse que Alberto Martins, ao pedir a palavra a Américo Thomaz, “fez um dos mais curtos e eficientes discursos políticos da história”, destacando-lhe a “ousadia”.
“E o povo, todo um país, pedia a palavra e não parou de a pedir até que lha deram”, afirmou Manuel Machado, numa alusão à revolução de Abril, ocorrida cinco anos mais tarde.
Já o atual presidente da AAC, Daniel Azenha, que abriu a sessão de hoje, destacou igualmente o “ato de coragem” de Alberto Martins, acrescentando que a Associação Académica de Coimbra está “sempre pronta a pedir a palavra e ser a voz de uma geração no meio de uma plateia”.
Veja o vídeo do Direto NDC:
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