Coimbra
Sai uma aguardente de medronho
A plantação de medronheiros tem vindo a crescer na região Centro por iniciativa de produtores que procuram diversificar as aplicações do fruto, desde o fabrico de aguardente ao consumo do medronho em fresco.
Na Pampilhosa da Serra e em Oleiros, o pequeno fruto vermelho deste arbusto (“Arbutus unedo”) sempre foi colhido para fazer aguardente, após fermentação de dois a três meses.
O medronheiro integra a vegetação autóctone de várias regiões de Portugal, como os territórios de baixa densidade demográfica do Centro.
Nas últimas décadas, o fabrico de aguardente medronheira prosperou, sobretudo no Algarve.
Só que o negócio passa muito pela compra do fruto ou da massa, após fermentação, a produtores das Beiras que se limitam a colher o medronho silvestre nas serranias de xisto.
“É uma planta que se dá bem aqui e que à partida oferece grande rentabilidade económica, desde que seja trabalhada com alguma escala”, afirma à agência Lusa José Martins, que possui 36 hectares de medronhal, na Pampilhosa.
Tinha sete anos quando deixou a aldeia natal, Signo Samo, acompanhando os pais e os irmãos para Lisboa, onde ainda trabalha no ramo imobiliário.
Na década passada, decidiu dar nova utilização aos terrenos da família.
Em 2005, um incêndio destruiu pinhais e eucaliptais na zona, o que incentivou ainda mais a sua simpatia pelo medronheiro.
“Havia necessidade de ocupar o solo com uma cultura que não necessitasse de muito trato”, recorda.
Vizinhos e família diziam-lhe que, “sem ter grande trabalho”, poderia obter os medronhos a partir das árvores espontâneas.
Mas José Martins prefere “uma plantação organizada e limpa”.
Criou a empresa Lenda da Beira para comercializar aguardente e outros “produtos com história”, como o vinho e o azeite.
Através de um projeto de jovem agricultor, apoiado pelo Estado, tem vindo a aumentar a área de medronhal e já possui 22 mil árvores.
A sua aposta vai ser a exportação. Neste inverno, espera obter 15 toneladas de massa e 2.500 litros de aguardente.
“Tem de haver capacidade de produção e alguma escala”, explica José Martins, que compra algum medronho a pequenos produtores e sonha atingir 100 hectares de plantação própria.
Em janeiro, começará a construir a sua destilaria, um projeto apoiado pela Câmara da Pampilhosa da Serra.
A venda de frutos frescos, outra das suas apostas, está a ser estudada pela Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), que tem vários projetos de investigação neste domínio.
Em Oleiros, Jorge Simões também colabora com a ESAC em diversos ensaios.
Este agricultor está a efetuar a terceira colheita, numa área de 15 hectares de medronheiros, plantados há oito anos, devastada pelo fogo em 2003.
No ano passado, obteve 30 tinas, com uma capacidade de 120 litros, de massa, prevendo atingir as 100 unidades nesta safra. Vende toda a produção a uma destilaria de Seia.
Uma cliente de Arganil acaba de lhe encomendar 200 quilos de medronho para compota.
Em Signo Samo, José Martins é surpreendido por um emigrante que quer comprar-lhe ramos de medronheiro para arranjos florais.
“Temos o ouro ao pé de casa”, afirma o ex-jornalista Jorge Simões, que já teve também uma suinicultura.
Mas agora, aos 72 anos, ele é um assumido entusiasta do medronho.
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