Coimbra

Savat nega ligação a rede de tráfico na prisão de Coimbra

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 15-01-2019

Um dos alegados líderes da rede de tráfico de droga na prisão de Coimbra que está a ser julgado em tribunal afirmou hoje que não tinha qualquer ligação ao grupo e negou por completo a acusação do Ministério Público.

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Conhecido por “Savat” (modalidade de boxe que praticava), o arguido afirmou no Tribunal de Coimbra, hoje de manhã, que era um recluso solitário, que nunca agrediu ninguém e que nunca participou em qualquer esquema de tráfico de droga na prisão.

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“É tudo mentira”, resumiu o arguido, que falava na continuação do julgamento de 28 arguidos acusados de tráfico de droga dentro da prisão.

O arguido, referindo que não conhece “95%” dos 28 arguidos acusados, deu como explicação para a presença do seu nome no processo a sua fama como atleta de desportos de combate.

“Tenho a consciência de que sou muito respeitado e quem não me conhece considera-me uma pessoa violenta. Mas eu nunca agredi ninguém na cadeia”, frisou, salientando que até se dava bem com alguns guardas prisionais e que lhe terão morrido dez reclusos “nas mãos”, em conflitos que tentou parar.

“Savat” alegou que não precisava de dinheiro, tendo vários negócios fora da cadeia, nomeadamente uma empresa de segurança e um centro de massagens tântricas, referindo ainda que conhecia Steven Johnson, outro dos alegados líderes da rede, porque dava-lhe um plano de treinos para o ginásio, recebendo do recluso britânico (entretanto transferido para o Reino Unido) 100 euros por semana pelo seu trabalho como treinador.

“Eu não gosto de violência”, vincou, dizendo que a sua vida na prisão é estudar e treinar no ginásio.

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Já outros reclusos, também arguidos pelo Ministério Público de participarem na rede, caracterizam “Savat” de outra forma.

Um recluso contou que, depois de não ter conseguido entregar um embrulho de droga que tinha sido arremessado do exterior, foi ameaçado pelo alegado líder da rede, tendo-lhe mostrado uma foto da sua filha e dizendo que, se não entregasse a encomenda, que a matavam.

Já outro arguido, cujas declarações à PJ foram ouvidas no julgamento, referiu que não acreditava no envolvimento de guardas prisionais no esquema, porque o grupo era temido, tendo levado um pontapé na cara de “Savat”, após recusar-se a participar na rede.

Outro dos alegados líderes, Fábio, recusou-se hoje a prestar declarações em tribunal.

O mesmo aconteceu com a maioria dos arguidos, nomeadamente os presos que pertenciam ao topo da hierarquia da rede, alguns acusados de agressões e ameaças a outros reclusos.

Os que falaram hoje perante o coletivo de juízes presidido por João Ferreira negaram quase sempre o seu envolvimento em qualquer rede de tráfico, mas acabaram por explicar algumas das relações dentro da prisão, nomeadamente o facto do núcleo duro treinar todo junto no ginásio.

Já a maioria das namoradas e amigas dos arguidos, acusadas de usarem as contas bancárias para movimentar o dinheiro do tráfico de droga, negaram quase sempre terem conhecimento da finalidade das transferências.

Uma delas explicou que pensava que o dinheiro era para tabaco e roupa.

“O tabaco está caro, dizem os fumadores, mas isto é muito dinheiro para tabaco [um total de 2.325 euros em transferências]”, comentou o juiz.

Outra arguida explicou que, assim que começou a achar estranho os pedidos de envio de dinheiro, afastou-se.

Já outra, companheira de um dos reclusos envolvidos na base da rede e acusada de entregar droga a presos que estavam em regime aberto, afirmou, na fase da instrução do processo, que só o fez porque não queria que o pai das suas filhas aparecesse “todo pisado”, referindo que ele sofria ameaças dentro da cadeia.

De acordo com a acusação a que a agência Lusa teve acesso, os três reclusos, “Savat”, Fábio e Steven Johnson, terão decidido “organizar e liderar um grupo com o propósito de introduzir e distribuir elevadas quantidades” de droga para venda “a um número elevado de reclusos”, sendo que toda a atividade “tinha um caráter organizado e tentacular, envolvendo igualmente arguidos não reclusos”, que ajudavam a introduzir a droga na cadeia.

Na base da rede estavam arguidos que, por vezes sob ameaças, guardavam a droga nas suas celas ou no próprio corpo ou tinham como missão recolher droga arremessada do exterior, sendo que um deles, face às pressões da rede, terá acabado por se suicidar já depois de mudar para outra prisão.

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