Coimbra
Coleiras ensinam rebanhos a comer só as ervas daninhas nas vinhas!
E se rebanhos de ovelhas e cabras circulassem livremente por vinhas e pomares para limparem os terrenos de vegetação infestante sem colocarem em causa a produção agrícola?
Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) encontrou a solução que promete a total dispensa de herbicidas. Para isso, desenvolveram uma coleira eletrónica que, quando colocada em cada um dos animais, faz com que ovinos e caprinos se concentrem nas ervas daninhas e que deixem em paz frutos, folhas e ramos de videiras e árvores.
O método oferece grandes vantagens não só aos produtores como ao meio ambiente: elimina o uso de herbicidas para queimar ervas infestantes, os terrenos deixam de ter a necessidade de serem arados várias vezes por ano e a fertilização dos solos passa a ser feita de forma natural. Evita ainda que os resíduos dos herbicidas possam contaminar os frutos e o vinho, como acontece atualmente, apesar dos cuidados dos produtores. E porque todos estes processos são realizados por máquinas agrícolas, o suprimento destas permitiria poupar nos combustíveis fósseis.
Desenvolvida no âmbito do projeto SheepIT por docentes da Escola Superior de Tecnologia de Águeda (uma das quatro escolas politécnicas da UA), do Departamento de Electrónica Telecomunicações e Informática e do polo do Instituto de Telecomunicações (IT) da Academia de Aveiro, o sistema inclui uma coleira eletrónica acoplada ao pescoço dos animais que tem como função a monitorização e condicionamento da respetiva postura corporal.
“A coleira emite um conjunto de avisos sonoros de forma a avisar o animal que excedeu a altura máxima calibrada. Os sons antecedem a emissão de estímulos electrostáticos que incomodam o animal sem lhes causar qualquer tipo de dor”, explica Pedro Gonçalves. Assim, explica o coordenador do projeto SheepIT, e de forma a evitar o incómodo, “ao fim de muito pouco tempo os animais começam a evitar a postura infratora quando ouvem o som” deixando as videiras e as árvores de fruto em paz e dedicando-se exclusivamente à pastagem do solo. Para além de rápida, a aprendizagem mantém-se mesmo ao longo de vários meses.
A coleira encontra-se integrada numa rede de sensores que permite também a monitorização da atividade e localização animal, assim como o envio dos dados agregados para uma aplicação residente na cloud. Estes dados, aponta o investigador, “ajudam a prever, por exemplo, as necessidades de alimentação suplementar animal, detetar doenças preventivamente, detetar cios e antecipar partos”.
A utilização de animais no controlo do crescimento vegetacional – tradicionalmente conhecida como monda animal – é um método bem conhecido na agricultura. Contudo, foi sendo abandonado devido ao surgimento de um sem número de máquinas agrícolas e herbicidas, assim como pela perda de competitividade do setor pecuário.
Contudo, explica Pedro Gonçalves, “com o aumento da preocupação ambiental e das necessidades das empresas vitícolas do Douro, onde a mecanização dos processos é muito difícil devido ao relevo, o interesse voltou a surgir”.
Assim, e neste momento, as coleiras foram já testadas nas vinhas da Escola Superior Agrária de Viseu e da Adriano Ramos Pinto, S.A., e encontram-se em processo de industrialização a realizar pelo parceiro industrial do projeto (GLOBALTRONIC, Eletrónica e Telecomunicações, S.A). “Estes testes têm vindo a confirmar a eficiência do método de monda animal, mantendo a segurança das produções assim como o necessário bem-estar dos animais”, congratula-se o investigador.
Para além do investigador Pedro Gonçalves, fazem parte do projeto um vasto grupo de investigadores da UA entre os quais José Pereira, Miguel Nóbrega e Paulo Pedreiras.
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