Coimbra
O governo provisório sírio é um fantoche dos Estados Unidos diz rebelde em Coimbra
Abu Daen, nome fictício de um rebelde sírio, criticou na quarta-feira, numa palestra em Coimbra, o governo provisório formado pela Coligação Nacional Síria na semana passada, na Turquia, considerando-o “um fantoche dos Estados Unidos da América”.
O governo provisório, que foi criado de forma simbólica numa aliança entre a Irmandade Muçulmana Síria e a Coligação Nacional Síria (CNS), e que tem como líder o islamista Ahmed Tomeh, foi condenado por Abu Daen por ter sido “formado fora da Síria”.
“Os sírios não puderam participar nessa eleição nem a maioria da população conhece as pessoas que o formam”, disse o rebelde sírio de 21 anos, que pediu o anonimato por questões de segurança.
Os Estados Unidos da América estão a “investir em diferentes fantoches para que possa espalhar a sua ideologia na Síria”, alertou o rebelde, que foi viver para a Suíça no início da revolução, mas que de seguida se juntou ao Exército Livre da Síria, depois de observar a libertação de Aleppo.
Para além dos Estados Unidos, também a Rússia tem “um papel crucial na guerra civil síria”, sendo “a espinha dorsal do regime de Bashar al-Assad (presidente sírio)” ao defender “o seu último reduto militar” na região.
Segundo Abu Daen, que pertence ao conselho local de Manbij, cidade libertada no norte da Síria, perto de Aleppo, a população está a lutar, no terreno, contra duas frentes: “o exército de Bashar al-Assad e os jihadistas da Al-Qaeda”.
As proporções de forças “são muito díspares”, com Bashar al-Assad a ter o apoio do “Hezbollah (milícias libanesas), de iranianos, de turcos e de iraquianos” e a Al-Qaeda a conseguir recrutar “jovens muçulmanos da Europa que, face à crise económica, juntam-se aos jihadistas que pagam muito dinheiro a quem está a lutar na Síria”.
Sobre o jihadismo (islamismo radical armado), Abu Daen é perentório em considerar que o mesmo está a deixar “os rebeldes isolados”, considerando que os separa do “resto do mundo”.
As brigadas apoiadas pela Al-Qaeda na região são “forças anti-revolucionárias” que pretendem “um estado islâmico”, sustentou, à margem da palestra dada perto das 22:00, organizada pelo Movimento Alternativa Socialista, na Casa Municipal da Cultura.
“Assad nem tenta lutar contra a Al-Qaeda”, contou Abu Daen, referindo que não viu “nenhum militar da Al-Qaeda morto pelo regime”, considerando que se está a desenrolar “um jogo de falsos inimigos”.
O rebelde não quer “um estado religioso”, mas sim um “país livre”, alertando para a perspetiva “perigosa” de um país democrático na região do Médio Oriente, “em vizinhos como a Arábia Saudita, Jordânia ou Qatar – países em que oprimem os seus povos”.
Abu Daen criticou também a “imobilização da comunidade internacional”, relembrando que, “nos primeiros seis meses, não houve uma bala atirada do lado dos revolucionários” e que, se a Europa e os Estados Unidos da América tivessem “intervindo no início da guerra civil” esta já tinha acabado.
“Tinham medo de que as armas caíssem nas mãos erradas. As mãos erradas não precisavam de esperar por armas, já as tinham”, sendo que “as mãos certas só tinham pedras e ‘cocktais molotovs'”.
Na perspetiva de Abu Daen, “com o medo da comunidade internacional de entregarem armas, o movimento revolucionário acaba por ser a força mais fraca. Estamos fortemente isolados”.
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