Coimbra
Sindicato diz que Governo deve preocupar-se com enfermeiros em vez da legitimidade da greve
Um dos sindicatos que convocou a greve de enfermeiros nos principais blocos cirúrgicos do país avisa o Governo que o problema não está na legitimidade da paralisação, mas no descontentamento que leva à criação de movimentos “mais radicais”.
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Em declarações à agência Lusa, no dia em que o Ministério da Saúde vai ter reuniões com os sindicatos dos enfermeiros, a presidente da Associação Sindical dos Enfermeiros Portugueses (ASPE) defendeu a legitimidade da greve e considerou que de “agressiva não tem absolutamente nada, a não ser a duração do tempo”.
“De facto, é um tempo mais prolongado do que é habitual os enfermeiros fazerem [greve], mas também é visível que nos últimos anos as greves que foram feitas de dois, três dias, uma semana nunca resultaram em absolutamente nada”, disse Lúcia Leite.
A ministra da Saúde, Marta Temido, admitiu na passada semana estar muito preocupada com a greve convocada para os principais blocos operatórios dos hospitais públicos do país, entre 22 de novembro e 31 de dezembro, considerando-a “extraordinariamente agressiva”, indicando que tem de ser avaliada a legitimidade nos moldes em que está a ser pensada.
A presidente da ASPE afirmou que é o Governo que está a empurrar os enfermeiros para esta situação ao não dar resposta às suas propostas em relação à carreira, como “prometeu fazer”.
“Os enfermeiros não querem prejudicar os doentes, nunca quiseram. Aliás, não há nenhum ministro que se preocupe mais com os doentes do que os enfermeiros”, que trabalham todos os dias com eles e que, “mesmo estando de greve, regra geral, não são restritivos” em relação aos serviços mínimos.
Lúcia Leite salientou que os enfermeiros também não estão interessados em fazer uma greve tão prolongada: “A questão é que o Governo tem que tomar uma posição”.
“Também não vamos aceitar que, de alguma forma, a sociedade tente responsabilizar os enfermeiros por esta situação quando já deram todas as oportunidades e mais algumas ao longo dos últimos meses e anos para que o assunto se resolva de forma pacífica e negocial”, sustentou.
Neste momento, está a chegar-se “a uma posição que se está a extremar”, disse, advertindo: “É com este inconformismo dos enfermeiros, esta insatisfação que se está a tornar crescente, que também está a levar à criação de movimentos isolados, independentes e mais radicais, que o Governo tem que se preocupar”.
Por isso, prossegue a sindicalista, “era bom que rapidamente se chegasse a acordo com os sindicatos”.
Ainda comentando a questão levantada pela ministra da Saúde sobre a legitimidade da greve, Lúcia Leite considerou que convocar a greve para “os blocos operatórios e [para] as cirurgias programadas é tão legitimo como qualquer outra greve”.
“Posso subentender que tenha a ver com os valores do ‘crowdfunding’, mas “não há nenhuma ligação entre os colegas que fizeram essa recolha de fundos solidários com os sindicatos. Se existir alguma situação, que nos comuniquem”, vincou.
Em relação à reunião de hoje, Lúcia Leite disse que a expectativa é que, além da assinatura do protocolo negocial, já exista da mesa negocial uma posição relativamente à proposta que a APSE e outro sindicato apresentaram à ministra da Saúde no passado dia 05.
“Do dia 05 ao dia 15 passaram dez dias, a senhora ministra tem-nos dito que ia trabalhar todos os dias, até agora não reuniu connosco, nós temos expectativa de que de facto nos digam alguma coisa relativamente à proposta que entregámos, caso contrário não me parece que haja de facto uma vontade de resolver o problema”.
O pré-aviso de greve abrange todos os enfermeiros do Centro Hospitalar Universitário de S. João, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e Centro Hospitalar de Setúbal.
A ideia da paralisação partiu inicialmente de um movimento de enfermeiros e que recolheu já mais de 350 mil euros num fundo destinado a compensar os profissionais que ficarão sem salário.
Os enfermeiros reclamam nomeadamente melhores remunerações e uma carreira digna, notando que não progridem há 13 anos
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