Coimbra
Destruição na serra da Boa Viagem deve servir como alerta para alterações climáticas
A destruição provocada pela tempestade Leslie na Serra da Boa Viagem, na Figueira da Foz, é uma preocupação para o futuro e um alerta para as alterações climáticas, assinalou hoje o partido ecologista Os Verdes (PEV).
Uma delegação do PEV, onde se integrava o deputado José Luís Ferreira, acompanhada por técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), visitou hoje uma zona da Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha, na serra da Boa Viagem, que foi dizimada pela tempestade Leslie, a 13 de outubro.
“Percebe-se bem a dimensão do que aconteceu aqui. Isto tem uma gravidade que nos deve deixar preocupados até para o futuro com as alterações climáticas porque não estamos habituados a estes fenómenos e eles tendem a serem mais frequentes à medida que nós avançamos no tempo”, disse à Lusa José Luís Ferreira.
“Era bom que os organismos nacionais e internacionais olhassem para os fenómenos das alterações climáticas com olhos de ver e quase como uma inevitabilidade, porque nós não temos plano b. Não podemos estar a deixar fugir este planeta porque não há outro, este é o nosso e temos de o preservar”, assinalou.
O ICNF, entidade que tutela a Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha, também conhecido como Parque Florestal Manuel Alberto Rei, assumiu recentemente que os trabalhos de remoção de milhares de árvores que caíram ou foram destruídas na serra da Boa Viagem pela tempestade Leslie irão durar seis meses e que a circulação no local – dois troços de estrada com pouco mais de um quilómetro de extensão entre a zona da capela de Santo Amaro e o miradouro da Bandeira que desapareceram debaixo de troncos e copas de árvore tombadas e arrancadas pela força do vento – não será autorizada até final do inverno por questões de segurança.
Sobre as restrições à circulação na mata nacional e ao prazo de seis meses estabelecido pela tutela do espaço florestal, o deputado do PEV não se quis pronunciar, admitindo, no entanto, que, “no imediato, é preciso garantir que não haja mais danos, sobretudo humanos”.
“Se os técnicos assim o indicam, também acho que, por motivos de precaução, não devemos facilitar (…) À cautela, seria sensato acreditar naquilo que os técnicos entendem que deve ser o prazo suficiente para proceder à remoção e ao corte e abate das árvores, para pensarmos no futuro em termos de reflorestação”, argumentou José Luís Ferreira.
Em resposta escrita enviada a semana passada à agência Lusa, o ICNF informou que já se iniciou a avaliação do estado das árvores atingidas na serra da Boa Viagem, “cujo número atinge a casa dos milhares” e na sequência da qual será apresentado um relatório preliminar em meados de novembro.
“Trata-se de árvores, em muitos casos, centenárias e de elevado valor económico, cuja avaliação deverá estar concluída dentro de duas semanas, altura a partir da qual poderão ter início os processos de alienação de caráter urgente”, indica.
De acordo com a mesma fonte, “seguem-se os trabalhos de exploração florestal, que estarão dependentes das condições meteorológicas, e a monitorização do grau de risco de queda das árvores remanescentes”, previstos para durar até final do inverno, não sendo autorizada a circulação até lá.
Na visita de hoje, Rui Rosmaninho, responsável das matas nacionais da região centro do ICNF, precisou que a avaliação em curso deverá estar concluída até final da próxima semana, notando que a destruição no núcleo central da mata nacional – o mais antigo, que tinha sobrevivido a dois incêndios florestais em 1993 e 2005 – é “generalizada” e atinge cerca de duas mil árvores, um número contabilizado “por baixo” e ainda indicativo.
Segundo Rui Rosmaninho, a destruição provocada pela tempestade Leslie teve maior incidência no topo dos vales existentes naquela zona da serra da Boa Viagem, numa área estimada de cerca de 100 hectares, sensivelmente um quarto da área ocupada pela Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha.
“As massas de ar sofreram um processo de compressão, por questões da topografia da encosta e nas zonas de linha de água essa compressão fez com que aumentasse a velocidade e a sua energia destruidora. No topo da linha de água [topo dos vales] tudo o que é arvoredo com alguma dimensão está partido ou tombado”, ilustrou o responsável do ICNF.
Rui Rosmaninho frisou que, além das árvores “partidas, caídas ou arrancadas”, há outras com galhos pendurados a dezenas de metros de altura e ainda exemplares “que, parecendo intactos, poderão estar em risco”.
“Há muitas árvores que poderemos agora indicar como não tendo sinal de perigo de queda, mas que poderão ter as raízes levantadas ou estarão instabilizadas por outras razões e isso tem de ser tudo avaliado. Até pela própria ausência de árvores na proximidade, ficam instáveis e são muito mais sujeitas à força do vento do que estariam se estivesse o conjunto das árvores ainda todas em pé, em seu redor”, exemplificou, mantendo o prazo de seis meses para a realização dos trabalhos.
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