Coimbra
Camões vai às Tascas
O ator António Fonseca tem declamado excertos de cantos da obra “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, por tascas de Coimbra, sendo a próxima sessão na segunda-feira, na Taberna d’Aviz, na baixa da cidade.
O ator, ao levar a obra de Camões para tascas, pretende “dessacralizar os Lusíadas e a própria cultura”, considerando que “a arte deve fazer parte da mesa e deve estar mais perto da vida”.
Considera ainda natural o cruzamento entre tascas e os Lusíadas – “a cultura entranhada no quotidiano”.
O projeto, intitulado “Os Cantos à Tasca” e apoiado pela companhia O Teatrão, decorre desde 07 de outubro, a todas as segundas-feiras, e esteve a 04 de novembro na Casa Costa, perto do Estabelecimento Prisional de Coimbra.
Nesse restaurante, quando o relógio com o símbolo da União de Coimbra já marcava as 21:45, surgiu António Fonseca a anunciar o seu espetáculo, enquanto empregados ainda passavam por entre mesas com travessas de papas com peixe frito.
Os presentes prestavam atenção enquanto o ator começava com um discurso do Canto I d’”Os Lusíadas”, entrecortado com pequenos intervalos para contextualizar os versos e explicar o significado de algumas palavras, recorrendo à gíria e ao calão.
Também houve espaço para se enganar e lançou o aviso: “se não digo isto bem, parto a cabeça contra a porta”. Não foi preciso e a leitura d’”Os Lusíadas” prosseguiu, com um público de todas as idades a assistir.
António Fonseca continuou a declamar “Os Lusíadas” – passou pelo Canto II e VII -, quando nas mesas já só restavam os cafés, digestivos e umas taças de vinho.
“Bebam e consumam, que 10% vai para mim”, desafiou o ator.
Por volta das 22:30, o espetáculo terminou, aplaudido, havendo tempo para António Fonseca pôr-se à conversa com um já reformado professor de Português que lhe entregou “a sua proposta do Canto XI”, um “gesto bonito” que é também a “razão do porquê de fazer isto”.
António Fonseca escolheu “Os Lusíadas” por lhe interessar “a grande história de coragem de 300 homens”, questionando o porquê de “os portugueses se meterem assim numa nau”, sem grandes garantias.
“Eles foram porque também na altura se andava a despir um povo, como hoje. Foram porque em Portugal era impossível viver”, observou António Fonseca, lembrando que também nessa época os portugueses “eram ludibriados”, num “regabofe que depois acabava por ser somente para elites”, fazendo o cruzamento com hoje, considerando que “não foi quem comprou um Fiat que viveu acima das suas possibilidades”.
O espetáculo nas tascas de Coimbra é também uma forma de promover as duas maratonas em que “Os Lusíadas” serão ditos integralmente por António Fonseca, a decorrer a 23 e 30 de novembro, na Oficina Municipal do Teatro, entre as 10:00 e as 24:00.
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