Opinião
O Carro Eléctrico – Regresso ao passado
TORRES FARINHA
Actualmente, o carro eléctrico é assumido como um novo paradigma enquanto produto inovador e amigo do ambiente, e um símbolo da energia mais utilizada no mundo moderno, a electricidade.
Entre 1832 e 1839, na Escócia, Robert Anderson inventou o primeiro carro eléctrico. Foram desenvolvidos outros veículos eléctricos, designadamente pelo americano Thomas Davenport e pelo escocês Robert Davidson, por volta de 1842. Estes inventores foram os primeiros a usar pilhas eléctricas não-recarregáveis. O Francês Gaston Plante inventou uma bateria com melhor armazenamento em 1865 e o seu conterrâneo, Camille Faure, em 1881, melhorou a bateria de armazenamento. Esta melhoria de capacidade de armazenamento da bateria abriu o caminho para que os veículos eléctricos prosperassem.
A primeira aplicação comercial aconteceu em 1897 com uma frota de táxis de Nova Iorque, construídos pela companhia de transportes eléctricos, a Wagon Company, de Filadélfia.
Como se constata, embora os veículos eléctricos tenham tido uma divulgação alargada nas duas últimas décadas, não representam qualquer novidade propriamente dita. De facto, no final do século XIX foram relativamente populares e, até finais da década de 1910, as suas vendas tiveram alguma expressão. Só a partir da década de 30 é que os veículos eléctricos praticamente desapareceram, devido aos desenvolvimentos obtidos no motor de combustão interna.
Nas décadas de 1960 e 1970 constatou-se a necessidade de reduzir os problemas de emissões de gases de escape dos motores de combustão interna e de reduzir a dependência da importação de petróleo. Desde então foram feitas muitas tentativas para produzir veículos eléctricos práticos.
Em 1975, o Serviço Postal dos Estados Unidos comprou 350 jipes eléctricos à Motor Company americana para serem usados num programa de teste, os quais tinham uma velocidade máxima de 80 Km/h e um alcance de 65 Km a uma velocidade de 65 Km/h. O aquecimento e descongelamento eram realizados com um aquecedor a gás e o tempo de recarga era de 10 horas.
Actualmente, para além de uma nova geração de veículos eléctricos, também se fazem conversões de veículos a gasolina para veículos eléctricos, atingindo alcances de 160 a 240 quilómetros entre recargas.
Embora os veículos dos anos 90 tivessem uma boa condução e baixos custos de utilização, tinham um custo de venda elevado. A produção em grande escala e as melhorias contínuas nos actuais processos de produção deverão reduzir os preços para a faixa actual dos veículos a gasolina.
Actualmente, o principal ponto fraco dos veículos eléctricos reside no problema da sua autonomia, daí a razão da pertinência dos actuais veículos híbridos (motor térmico + motor eléctrico).
Não obstante a necessidade de grandes melhorias nas características dos sistemas de armazenamento de energia, há a registar evoluções importantes nos últimos anos, sendo os principais os seguintes:
Baterias – As mais importantes são as baseadas em níquel (Ni) e iões de lítio (Li), principalmente estas últimas (elevada densidade de energia). Têm valores de energia específica superiores aos super-condensadores e inferiores às células de combustível. Os tempos de carga são elevados.
Super-Condensadores – Apresentam valores muito elevados de potência específica. São usados como complemento das baterias ou células de combustível. Têm tempos de carga muito curtos. Possibilitam bons comportamentos dinâmicos (potência suficiente para as acelerações e capacidade de recuperação de energia nas travagens). Têm ciclos de funcionamento mais elevados do que as baterias.
Células de Combustível – Estes sistemas produzem energia eléctrica, através da reacção química do hidrogénio e do oxigénio, sendo o vapor de água o único produto da reacção. O seu impacto ambiental é nulo, e o seu rendimento elevado. Têm baixos valores de potência específica (inferiores aos anteriores). Continuam a ser alvo de investigação, com vista a melhorar as suas características e custos.
Como se constata, com o novo advento do carro eléctrico regressamos ao passado para fazer futuro em prol de uma sustentabilidade da qual depende a nossa própria sobrevivência.
O curioso é fazer a relação entre a ascensão, queda e renascimento do automóvel eléctrico, e a evolução económica do petróleo no mundo ao longo do tempo e daí tirar ilações.
Porém, com o surgimento de novas fontes energéticas, será que desta vez os veículos eléctricos vão ser destronados pelos veículos movidos a gás de xisto? O futuro é uma permanente incógnita e nem sempre são as opções pela sustentabilidade que prevalecem.
TORRES FARINHA
Investigador
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