Opinião

77 anos de David. 8 anos sem Bowie.

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 11 meses atrás em 13-01-2024

Nasceu David Jones, no dia 8 de janeiro de 1947. Morreu a 10 de janeiro de 2016, então já David Bowie. Há quem garanta que, entre um momento e outro, mudou mil e uma vezes, mas creio que será mais justo dizer que foi sempre o inconformado incapaz de se manter interessado pela mesma coisa durante muito tempo e, por isso mesmo, incomparável nessa arte de nos manter interessados a nós. «Não sei onde vou, mas prometo que não vos vou aborrecer», disse uma vez e nunca deixou de cumprir.

Bowie não foi apenas um músico, embora não se possa traçar um mapa da sua relevância sem falar dela, das canções que cantámos para curar um mal de amor ou uma ressaca, das que dançámos descontroladamente ou nos fizeram ficar imóveis só a escutar, das que nos mostraram livros, filmes ou outras canções – de todas as vezes em que acreditámos que, de facto, podíamos ser heróis, mesmo que só por um dia.

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Também não se pode deixar de falar de Bowie enquanto mestre supremo do zeigeist, capaz de perceber os caminhos de modernidade e disrupção no momento imediatamente anterior à sua eclosão e, dessa forma, de ser tantas vezes simultaneamente o artista deslumbrado com aquilo em que se inspira e o artista inspirador que muitos outros tentam imitar. Foi isso que lhe garantiu uma influência bem evidente em muitas outras áreas para lá da música, seja noutras artes performativas, mas também na literatura, nas artes plásticas, na moda ou no design.

Mas sobre todos estes aspetos, haverá pessoas muito mais habilitadas para teorizar do que eu, além de que ouvir falar ou ler sobre música será sempre apenas a terceira coisa mais interessante que se pode fazer nessa área.

Deixem-me antes falar-vos da importância que David Bowie teve nas vidas de tantos que nunca sequer escutaram as suas canções. Porque o seu maior legado – de todos os imensos legados que deixou – foi ter sido uma luz que tornou menos assustador percorrer as ruas que queremos ou precisamos percorrer, mas que evitamos porque são ruas (que nos parecem) solitárias.

Modelo para aqueles que anseiam ser diferentes, que sonham em conseguir ousar, que se recusam a conformar aos moldes já existentes, Bowie sempre nos falou de identidade: de encontramos a nossa e de não termos medo de a mudar, as vezes que quisermos, porque só assim podemos ser autênticos. Fê-lo quando esse discurso o colocava em risco de ser considerado um pária, mas olhou essa ameaça nos olhos e, com aquele sorriso de miúdo desafiador que manteve até ao fim da vida, afirmou que seria então alienígena. Foi dessa forma que desafiou estereótipos, enfrentou preconceitos, transpôs barreiras e abriu portas para que todos pudessem entrar.

David – perdoem-me o abuso da familiaridade – foi, por isso, confidente em horas sombrias, amigo encorajador em momentos de dúvida e guia quando os caminhos eram desconhecidos. Foi, para milhões que nunca se cruzaram com ele, um irmão num mundo muitas vezes difícil. O seu impacto vai além das músicas e das letras, é profundamente emocional e baseia-se em coragem, autenticidade e na certeza de que ser diferente é o que nos torna verdadeiramente humanos. Obrigado por isso. Para sempre.

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OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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