“Ainda há pessoas que brincam”
Gosto de fotografar mensagens claras em muros, paredes, postes e locais proibidos, que não permitem a fixação temporária ou indefinida. Nesses momentos, recordo-me do autor do livro “As veias abertas da América Latina”, o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano. Nas suas palavras, encontro o destino adequado a cada sentimento.
“Um aviso afixado na parede de um bar de Madrid adverte: é proibido cantar. Uma placa colocada na parede do aeroporto do Rio de Janeiro adverte: é proibido brincar com os carrinhos de bagagem. Em outras palavras: ainda há pessoas que cantam, ainda há pessoas que brincam.” Essa é a rotina de quem vivencia a arte como Galeano.
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No meu percurso, deparo-me com poesia intemporal e, às vezes, pouco percetiva: anúncios de cartomante, publicidade, imagens de santos e avisos em casas de banho, como “não jogue papel na sanita”. Nesse contexto, pode acontecer sermos imprudentes ao tentar “fazer o certo”.
Numa avaliação sucinta, pode ser a pressa, a falta de habilidade, a falta de educação, o analfabetismo e, por fim, o anseio de desafiar a norma. Não existem certezas sobre o que é correto ou incorreto: fazemos.
Contudo, quem demonstrou o “bom senso”? É inegável que o exemplo é a melhor lição em certas circunstâncias; porém, quando não está presente, podemos ser instintivamente orientados para o mal.
A normalização do caos pode afetar a saúde mental, pois, não entendemos a mensagem e ridicularizamos as nossas ações com a percepção de que “ninguém está a olhar”. Já refletiu sobre o que você faz quando ninguém está a observar? O inconsciente coletivo está em ação: se não há justificação, persistimos num ciclo vicioso de normas e desculpas.
A casa é sempre um refúgio para as nossas pequenas falhas. No entanto, ao sair à rua, surpreende-nos o que encontra: lixo fora do lixo, fezes de cachorro na grama, latas de bebidas no chão e monos (móveis velhos).
Não consigo entender por que as normas básicas de civilidade são depreciadas.
O meu subconsciente diz que amanhã teremos uma nova oportunidade para acertar o erro. Segundo Galeano, ainda há pessoas que cantam e brincam, e talvez essas pessoas tenham mais conhecimento sobre a vida do que eu. No entanto, a alienação contribui para desviar a atenção do essencial.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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